quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

TIPOS DE CONHECIMENTO

Apontamento:
1. Os tipos de conhecimento:
Que tipos de conhecimento há?

Já sabemos que a relação entre o sujeito e o objecto não ocorre fora de um contexto. O sujeito interage com o real, intervém na definição do objecto, integrando-o na sua visão do mundo. Além disso, o próprio modo como o sujeito se relaciona com o objecto não é uniforme, o que nos leva a afirmar a existência de diferentes tipos de conhecimento.

Enquanto ser-no-mundo, o ser humano encontra-se condenado à experiência. Viver é estar sujeito a uma pluralidade de experiências. Assim, a experiência, em certo sentido, pode ser definida do seguinte modo: “A apreensão por um sujeito de uma realidade, uma forma de ser, um modo de fazer, uma maneira de viver, etc. A experiência é então um modo de conhecer algo imediatamente antes de todo o juízo formulado sobre o apreendido”.

Saber tocar piano, por exemplo, não é como saber que os pianos têm teclas.
Saber andar de bicicleta é diferente de saber que andar de bicicleta é saudável. Mas existe algo em comum entre estes tipos de conhecimento: nos dois casos há um sujeito (que conhece) e um objecto (o que é conhecido).
Por exemplo:
a) O João sabe andar de bicicleta
b) O João sabe que andar de bicicleta é saudável.

Ambas as frases exprimem uma relação de conhecimento entre o João e as coisas que ele sabe. No primeiro caso, o objecto de conhecimento é andar de bicicleta; no segundo, a ideia de que andar de bicicleta é saudável. Diz-se que o João é o sujeito do conhecimento ou agente cognitivo.
Por vezes, o objecto e o sujeito de conhecimento coincidem, pois o João também sabe que ele próprio existe, por exemplo, ou que se chama “João”.
Mas que tipo de coisas sabemos? Vejamos os seguintes exemplos:
1. O João sabe andar de bicicleta.
2. O João conhece Luís Figo.

Reparemos nos objectos do conhecimento do João. Em 1, o objecto do conhecimento é uma actividade (andar de bicicleta). Este é o tipo de conhecimento a que os filósofos chamam “saber-fazer”.

Saber andar de bicicleta não é como conhecer Luís Figo. O objecto de conhecimento no caso 2 é um objecto concreto (Luís Figo) e em 1 é uma actividade. Além disso, conhecer Luís Figo é ter algum tipo de contacto directo com ele, conhecê-lo pessoalmente. Podemos saber muitas coisas sobre Luís Figo, mas se não o conhecermos pessoalmente não dizemos que o conhecemos. O mesmo acontece com o conhecimento de uma cidade, por exemplo. Podemos saber muitas coisas sobre Paris, mas, se nunca lá fomos, não dizemos que conhecemos Paris. A este tipo de conhecimento que temos quando conhecemos uma pessoa, uma cidade etc. chama-se “conhecimento por contacto”.
Alguns filósofos, como Bertrand Russell, defendem que não conhecemos realmente por contacto uma cidade ou uma pessoa, mas apenas as sensações que temos de uma cidade ou de uma pessoa. Contudo, hoje em dia, os filósofos usam a noção de conheimcento por contacto num sentido menos restrito.

Vejamos mais alguns exemplos:

3. O João sabe que Luís Figo é um jogador de futebol.
4. O João sabe que Londres é uma cidade.

Os filósofos chamam “saber-que”, ao tipo de conhecimento expresso em 3 e 4. No caso do “saber-fazer”, o objecto do conhecimento é uma actividade. No caso do conhecimento por contacto, o objecto é uma pessoa ou lugar (um objecto concreto). No caso do “saber-que”, o objecto do conhecimento é uma proposição. Uma proposição é aquilo que é expresso por uma frase declarativa.
Quando dizemos que o João sabe que Londres é uma cidade, o que o João sabe é que a proposição expressa pela frase que está depois da palavra “que” (“Londres é uma cidde” é verdadeira. Por outras palavras, saber que Londres é uma cidade ou que Luís Figo é um jogador de futebol é saber que é verdade que Londres é uma cidade ou que Luís Figo é um jogador de futebol. A este tipo de conhecimento também se chama “conhecimento de verdade ou “conhecimento proposicional”, pois o seu objecto é uma proposição verdadeira.

Praticamente tudo aquilo que aprendemos na escola é do tipo “saber-que”. Aprendemos que qualquer número multiplicado por zero dá zero, que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal, que o Sol é um estrela, que Portugal fica no continente europeu, etc. Praticamente todo o nosso conhecimento científico, histórico, matemático, literário, etc. é deste tipo. Não é portanto de estranhar que os filósofos tenham centrado a sua atenção nesta noção de conhecimento.

Resumo:
Saber-fazer:

Refere-se ao conhecimento de uma actividade, isto é, à capacidade, aptidão ou competência para fazer alguma coisa. ( um conhecimento prático).
- Conhecimento de actividades
Por exemplo:
. Saber cozinhar
. Saber conduzir
. Um colar de missangas ( a existência disso implicaria da minha parte um saber-fazer)
. O Pedro sabe andar de Skate (algo que o Pedro sabe fazer)
. Saber tocar piano
. A Irene sabe fazer o pino
. Saber dançar
. Saber andar de bicicleta
. Saber consertar calçado

Conhecimento por contacto ou conhecimento de objectos:
Refere-se ao conhecimento directo de alguma realidade, seja de pessoas ou lugares.
- Conhecimento de pessoas ou locais.
Por exemplo:
. Conhecer Paris (ou seja, ter visitado estas cidades)
. Conhecer o Papa (isto é conhecer pessoalmente)
. O Bruno conhece o pianista Alfred Brendel.
. Conhecer o presidente dos EUA (isto é conhecer pessoalmente)
. Conhecer Copenhaga e Veneza (ou seja, ter visitado estas cidades)
. Conhecer Luís Figo (isto é conhecer pessoalmente)
. O Pedro conhece o presidente da República.

Saber-que:
Refere-se ao conhecimento proposicional ou conhecimento de verdades. Grande parte dos nossos conhecimentos é relativa ao “saber-que”. (algo que é verdadeiro ou falso). O “saber-que” parte de algo que existe fora de mim e cuja existência eu posso verificar, seja por mim mesmo seja por testemunho dos outros.
- Conhecimento de proposições
Por exemplo:
. 2+4=4
. De acordo com Lavoisier, na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma
. Saber que Paris é uma cidade
. Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia
. Descartes foi um filósofo francês.
. Saber que há uma Sé em Braga (afirma-se algo como verdade)
. Saber que Aristóteles foi um filósofo.
. Camões escreveu os Lusíadas.
. D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal (proposição verdadeira)
. A Sandra sabe que Winston Churchill foi um dos vencedores da Segunda Grande Guerra.

Nota:
Destes três tipos de conhecimento, aquele que tem merecido mais atenção por parte dos filósofos é o conhecimento proposicional.

Questões de revisão:

Grupo I

1. “Eu sei que nadar é uma actividade agradável”. Que tipo de conhecimento é este?
2. O que é o conhecimento proposicional? Explica e dá exemplos.
3. “Eu sei tudo o que há para saber sobre nadar. Há anos que observo os melhores nadadores e que leio sobre técnicas de natação”. Que tipo de conhecimento está aqui em causa? Porquê?
4. Que tipo de conhecimento é o conhecimento por contacto? Explica e dá exemplos.
5. O que entendes por “saber-que” e por “saber-fazer”?

Grupo II

1. Que tipo de conhecimento é saber nadar? Porquê?
2. Que tipo de conhecimento é saber que o preço do petróleo é um dos factores que determinam a evolução da economia? Porquê?
3. Que tipo de conhecimento é conhecer a cantora Cecília Bartoli? Porquê?
4. Os três tipos de conhecimento são independentes uns dos outros? Explica porquê.

Grupo III

1. Será possível que alguns tipos de conhecimento por contacto sejam conhecimento proposicional? Porquê?
2. Diz se concordas com as seguintes afirmações e explica porquê:
a) “Se conheço o João, então sei que ele existe.”
b) “Se sei que o João existe, então conheço-o”.
3. Será possível que “saber-fazer” seja, no fundo, um “saber-que”? Porquê?

3 comentários:

  1. Bom dia,o seu post serviu de muito,agradeço. Posso perguntar qual o livro onde foi buscar essa informação?

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  2. Obrigado pela informação

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