sábado, 5 de setembro de 2009

FILOSOFIA DE ORIENTAÇÃO

Uma forma de construir o presente pode ser através da filosofia, uma vez que o futuro fica planificado por uma ordem superior, não é necessário um encantamento, mas um direccionamento de mente.
O mapeamento da vida faz uso da razão, revolucionando, construindo filosoficamente, prudentemente, questionando as ideias convencionais para que assim se venha a equacionar o sentido da vida. Seja a área que possa ser, agir filosoficamente é proceder de acordo com a lucidez, com a maior proximidade daquilo que a realidade exibe, desmistificando os saberes que não têm fundamentos inabaláveis. Uma filosofia prática movimenta-se de acordo com a lógica, ultrapassa as crenças dos ditos de uma astrologia, ou artes de adivinhar, ou outras formas de tentativa de preenchimento interior sem fundamento; o aconselhamento filosófico coloca os factos na mesa e reflecte sobre eles, entre mestre e cliente procura-se levar uma luz superior, um pensar radical, construtivo e inovador sobre aquilo que possa ser. O ser e o parecer são situações diferentes. A filosofia é uma forma e saber, um saber de vida, um amor pelo saber que é consciente, pulsa por uma recuperação da eficácia ao serviço da harmonia interior, clarifica os conceitos de uma outra ciência, tornando-a ou não credível. Quantas pseudo ciências com aparência credíveis (enquanto o sujeito anda angustiado, desesperado), após esclarecimento não caem por terra? E porque é que isto acontece? Simples, os factos mostram a realidade e contra ela nada a fazer. Os mais diversos campos sustentam essa mesma postura.
A filosofia possui muitas áreas, não é que eu vá falar sobre todas elas, mas quero colocar a pensar o leitor para que por si próprio não se deixe ir por terrenos que só servem para gastar dinheiro e pouco mais, modos de lidar com encantamentos que depois desencantam. E porque será? Todas as áreas do saber falam bem de si, mas poucos são os que vão ao fundo das questões, como a filosofia. Uma Filosofia prática coloca ao serviço todo um aconselhamento que quanto a mim presta-se para orientar a vida do ser humano. Mas fará sentido a Filosofia nos currículos do ensino secundário? A minha postura é que, a Filosofia está presente em todas as disciplinas, ainda que não se mencione o nome desta, contudo, lidar com a filosofia em si é sempre um maior privilégio, e bem-aventurado o amante pelo saber.
Não te venho falar de uma AstroFilosofia ou PsicoFilosofia, nada disso nem da religião misturada com a filosofia. A Filosofia é autónoma, apresenta as respostas por si, uma vez que o trabalho filosófico é feito no terreno do dia-a-dia, desde o laboratório até a outros tantos lugares. A filosofia aprofunda e fundamenta a prática dos conceitos na relação desses mesmos com os outros, levando a harmonia e não castrando, ou inquietando, o propósito é encontrar a felicidade, libertando assim o homem das amarras da ignorância. Muitas são as forças estranhas que prendem o homem fazendo com que este não veja o espaço que pisa e a maioria embarca logo na primeira carruagem para ver o que vai acontecer, são as experiências que desorientam. Mas como aconselhar filosoficamente? Como proceder para que passados alguns tempos o sujeito não ande no psiquiatra, ou na bruxa, no astrólogo, ou nas artes divinatórias muito bem sustentadas pelos charlatães? Simples! Procure-se um Filosofo e peça-lhe aconselhamento, que possa pensar consigo, sem que o objectivo seja o dinheiro pela consulta, como a maioria faz. É urgente pensar acerca de uma Filosofia Prática, entender que o homem é um ser radicado no mundo, rodeado das mais diversas dificuldades e por vezes vive em função da sua sorte, acredite ou não num Deus de amor ou castrador que depois em termos práticos pouco vem a resolver e disso nada se sabe, não se percebe, apenas fica no mistério e no campo do ilusório.
A realidade é a própria sociedade, com as relações, com os valores, com a cultura, mas nesse jogo há que procurar fazer a gestão da melhor forma e não sustentar crenças que não servem para nada. Antigamente dizia-se que a filosofia não servia para nada, hoje ao contraio, esta é das que tem mais utilidade, veja-se como por exemplo, construir um prédio, um avião, um TGV, um navio, quando aconselhamentos não foram ali aglomerados, quantas questões não foram levantadas? Para que tudo funcionasse, creio que foi graças ao raciocínio lógico e matemático, porque a Filosofia é lógica e concreta.
Como começa a interpretação de alguém que vai começar a interpretar? Qual o primeiro passo? Como vai decidir a sua vida? Procura ajuda de quem? Qual a área específica? O Padre para o casamento? E porque não o aconselhamento filosófico? Talvez evitasse mais divórcios? A sério! A maioria das pessoas anda desorientada, quer recuperar o passado em tudo o que possa parecer mais bizarro. Creio que se falarmos um pouco algumas soluções encontras e não gastas assim tanto dinheiro. Mas tudo depende de ti, és tu que constróis as tuas crenças no quer que seja. Não vou fazer história de Filosofia nem de Astrologia ou cartomancia ou ainda quirologia, nada disso, contudo até podemos falar disso. A interpretação é sempre a interpretação do sujeito.
As sociedades organizam-se por modelos, tendo fins particulares e subjectivos e alguns estigmatizantes. É necessário limpar essa mente desses preconceitos, dessas amarras e ser autónomo, isso pode acontecer pelo Aconselhamento Filosófico. Aguardo a tua tomada de postura… falamos logo em breve.

Vila Real de Santo António, 06 de Setembro de 2009 – 07:04h
Jorge Ferro Rosa, in Caderno da Alma

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

DEVANEIO ACERCA DA FILOSOFIA PRÁTICA

Talvez hoje te venha falar de outros destinos, de uma filosofia prática, algo aplicado ao serviço de quem usa a filosofia como instrumento de orientação da sua conduta, mas, entretanto terei de amadurecer as ideias! Um consultório de filosofia prática? Que virtude! Bem… a lei já é matéria de anedotas e o rebanho a que te sujeitas faz de ti um ser decadente, numa moral de oportunistas, dessa sorte, talvez uma vertente lógica e filosófica te iluminará, conduzindo a que possas sair desse túnel dos medos e dos irracionais. Tempestades da educação são desmistificadas pela luz da filosofia. Vamos colocar a filosofia ao serviço dos utentes? Tu obedeces, sujeitas-te, traças a tua decadência por um suposto “dever ser”, uma vez que a tua referência é o teu próximo. Mas qual a realidade de tudo isso? Para que serve? É urgente fazer uso da filosofia, criar-se um consultório e mostrar que afinal o pensamento tomado pela luz da razão tem utilidade.
As modas circulam desmedidamente, são classificadas, depois ajustam-se a determinados temperamentos, como expressão de uma necessidade maior. O valor enforma por norma no indivíduo, com clareza ou não daquilo que é, rege-se por uma conduta padronizada de acordo com princípios da comunidade onde está inserido, disso rezam os provérbios, os adágios e aquilo a que se chama dogma consolida posturas que a vertente prática da filosofia rasga, é necessário anular os medos de uma sociedade decadente!
A filosofia prática procura que possas agir em conformidade com a harmonia, a doçura do racional e não com a lei castradora, bloqueadora que para nada serve a não ser para matar! A filosofia prática evita a morte, procura a justiça, levando impunemente a regência da justa causa do problema. A justiça ideal bebe do sentimento, ainda que este emane dos particulares, do sentimento que tem em si sempre um lado estranho… esse estado de estranheza é possível vir a compreender-se pela vertente filosófica, essa que Sócrates, o pai da Filosofia postulava de “conhece-te a ti mesmo”. Vamos pensar nisso! Quem se conhece a si? Como se conhece? Quais as formas que usa para se conhecer? Quem consultamos para ter tal acesso a esse mistério? Psicologia? A Psicologia problematiza como a filosofia? Mostra? Duvida? Questiona procurando a verdadeira causa? Pois! Uma Filosofia prática ajuda, é o lado útil da questão que até aqui parecia adormecida, que estava enterrada na terra dos medíocres uma vez que só a teoria sem aplicação em nada resolve. A filosofia tem a sua utilidade, está no nosso dia-a-dia, está lá e serve, em todas as áreas. Quem diz que a filosofia não serve para nada, certamente não quer ver a realidade com olhos de ver, mas com os preconceitos, com as teias, com aquilo que não resolve nada. A filosofia está em todas as disciplinas do ensino, todas, desde a matemática às literaturas. A filosofia conduz e ainda que depois de se ler tudo isto se continue a dizer que isto em nada serve, serve, acaba por ter a consciência que o que está a dizer é o maior disparate. Afinal se não existisse a filosofia não existia o amor pelo saber, por querer dar ordem, resolver os problemas, esses que são os do nosso dia-a-dia, como negócios, ir às compras, ir ao médico, psiquiatra, ir ao mecânico… uma filosofia aplicada ao uso das tecnologias, computadores, telemóveis… veja-se a filosofia do uso prático do telemóvel. Para que serve o telemóvel? Comunicar, certamente, comunica-se de muitos modos, usam-se argumentos, procuram-se soluções. Consulta um filósofo e ele te diz alguma coisa… saberá da tua alma e não falasse disso Aristóteles no “tratado das paixões da alma”.

Tavira, 27 de Agosto de 2009 – 00:38h
Jorge Ferro Rosa
PS. Ver: http://gabinete-project.blogspot.com/ - Gabinete projecto – Consultadoria Filosófica

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

QUESTIONÁRIO DE FILOSOFIA

Depois das férias e depois da filosofia ter ficado num estado de adormecimento para algumas pessoas, deixo o convite para que possas fazer um teste a ti próprio, nada mais. Um misto de actualização e pesquisa, tenta responder ao questionário que se segue, acaso gostes de Filosofia! Boa?



1 – Caracterize sumariamente a Filosofia Contemporânea quanto aos sseguintes aspectos:
a) Principais autores;
b) Problemas centrais.

2 – Exponha a sua opinião sobre a relevância da filosofia para:
a) A Cultura Contemporânea;
b) A Ciência Contemporânea;
c) A vida política e social contemporânea.

3 – Indique, no âmbito da filosofia contemporânea (pós-1950) três livros que tenha lido.

4 – Quais s revistas filosóficas que conhece? Indique algumas…

5 – O que é, para si, um clássico? Seja breve.

6 – Caracterize as suas convicções filosóficas; caso não as tenha, exponha o aspecto problemático ou trivial desse facto.

domingo, 2 de agosto de 2009

EMIGRANTE TERRAS DO ACASO

Por terras do acaso, distante…
Para a vida procurando o sentido
Trabalha no duro, o emigrante
Em tantos tons, um vasto colorido.

Na inquietação um outro sorriso
São as batalhas de outro rosário
Com olhar triste, por vezes indeciso
É do emigrante incerto o calendário.

Por caminhos do destino o percorrer,
Suas malas a contradança…
Nos olhos a cor do seu viver
Na alma a saudade de criança.

Emigrante! Tens o carinho do povo,
Nos atalhos a taça da surpresa
O trabalho é sempre novo…
A vida uma incerteza.

A família também dispersa, enfim
Ganhar sustento, a aventura
As tuas malas fazem o jardim
A distância por vezes a amargura.

Jorge Ferro Rosa

quinta-feira, 25 de junho de 2009

ALTAMENTE MESMO


Jantar da turma 11AS no restaurante O Poço, em Castro Marim dia 25 de Junho de 2009Fotos de ontem, momentos inesquecíveis... mas afinal quem são eles? e os outros? yaaaaaa estão por ai!
Jantar de turma do 11º AS alunos e professores
Bemmmmmmmmmmmmm altamenteeeeeeeeeeeeeeeee, mesmo granda festa, a maior e das melhores. Luís tu és um espectáculo, sempre na maior alegria, boa disposição sem parar. Altas fotosssssssssssss uauuuuuuuuuuuuu. O pessoal todo estava muito bem, toda a gente a divertir. Professores e alunos.

Abraços e beijinhos, com muita amizade tudo coolll - boas férias e já sabem, este espaço vai ser aquele que nos liga, por isso faz favor de ir dando novidades - toca a deixar msn de toda a malta. eh eh eh

quarta-feira, 17 de junho de 2009

PELAS ROTAS DE THOMAS KUHN

Apontamento

A perspectiva moderadamente optimista de Popper sobre a objectividade da Ciência e a racionalidade dos cientistas na escolha de teorias rivais foi posta em causa por Thomas Kuhn. O seu trabalho e as dúvidas que levantou acerca destes temas tiveram um grande impacto não só no modo como se encararam as Ciências da Natureza, mas também as Ciências Humanas.

Para muitos, a perspectiva de Kuhn revelou duras verdades sobre a suposta racionalidade de todo o nosso conhecimento empírico, mostrando que não podemos falar ingenuamente em progresso científico. Já outros resistem, defendendo a ideia de que a Ciência avança de facto em direcção à verdade e de que não se limita a alternar teorias cujo valor de conhecimento é semelhante.

A perspectiva de Kuhn baseia-se naquilo que denomina “revoluções científicas” e que teriam ocorrido, por exemplo, com o surgimento, na Astronomia, do sistema heliocêntrico de Copérnico ou, na Biologia, da Teoria da Evolução do Darwin. Estas revoluções representariam alterações radicais dos modos de pensar e trabalhar dos praticantes das respectivas áreas e, naturalmente, só teriam ocorrido em épocas temporalmente distanciadas.

Tarefas:

1 - Sintetize a teoria de Thomas Kuhn acerca da evolução da ciência.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

FICHA DE TRABALHO

(possíveis respostas - grupos II e III)
Para cada um dos itens SELECCIONE a resposta correcta.

1. Ao recorrer à dúvida metódica. Descartes pretende:

(A) Rejeitar definitivamente tudo o que não seja indubitável.
(B) Encontrar um fundamento seguro para o conhecimento.
(C) Mostrar que os sentidos por vezes nos enganam.
(D) Provar que não podemos estar certos de nada.

2. No método hipotético-dedutivo, a hipótese desempenha um papel muito importante porque:

(A) Sem hipótese não haveria observação.
(B) O senso comum é hipotético.
(C) A hipótese é o fundamento de toda a investigação científica.
(D) A dedução das leis tem como base a experimentação.

3. O conhecimento científico difere do conhecimento vulgar:

(A). Apenas porque é sistemático.
(B). Porque é assistemático.
(C). Porque visa explicar os factos, mas não sistematicamente.
(D). Porque visa explicar sistematicamente os factos.

4. Segundo Popper, uma teoria é falsificada se…

(A). Ainda não tiver sido empiricamente testada.
(B). For possível conceber um teste empírico que a refute.
(C). Não for científica.
(D). Tiver sido falsificada.

5. Das seguintes afirmações, apenas uma reflecte a perspectiva de karl Popper:

(A). Se a experiência comprova a consequência, então a hipótese é válida.
(B). Se a experiência não comprova a consequência, então a hipótese é válida.
(C). Se a experiência comprova a consequência, então a hipótese não é válida.
(D). Se a experiência não comprova a consequência, então a hipótese não é válida.

GRUPO II (1X35+1X35+1X20+1X30=120 pontos)

1. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

"Entendo por método regras certas e fáceis, que permitem a quem exactamente as observar nunca tomar por verdadeiro algo de falso e, sem desperdiçar inutilmente nenhum esforço da mente, mas aumentando sempre gradualmente o saber, atingir o conhecimento verdadeiro de tudo o que será capaz de saber".

Descartes, Regras para a Direcção do Espírito, Edições 70, Lisboa, p. 24

1.1. Refira, em que medida o método cartesiano exige o exercício da dúvida.
R: A primeira das quatro regras do Método de Descartes exige claramente o exercício da dúvida, pois nessa regra indica-se que nada se deve aceitar por verdadeiro, se não for conhecido evidentemente como tal. Para isso, é necessário evitar a precipitação e os preconceitos, e ter o cuidado de não subscrever juízos que não sejam claros, distintos e indubitáveis.

2. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

“- Que não poderíamos duvidar sem existir, e que isso é o primeiro conhecimento certo que se pode adquirir. Enquanto rejeitamos deste modo que é falso, supomos facilmente que não há Deus, nem céu, nem terra, e que não temos corpo; mas não poderíamos igualmente supor que não existimos, enquanto duvidamos da verdade de todas estas coisas: porque temos tanta repugnância em conceber que aquele que pensa não existe verdadeiramente ao mesmo tempo que pensa que, não obstante todas as mais extravagantes suposições, não poderíamos impedir-nos de crer que esta conclusão PENSO, LOGO EXISTO é verdadeira e, por conseguinte, a primeira e a mais certa que se apresenta àquele que conduz os seus pensamentos por ordem.”
Descartes, Princípios da Filosofia, Porto, Areal Editores, 2005, p. 59

2.1. Clarifique o problema que está em causa no excerto apresentado.
R: Descartes está imerso num oceano de dúvidas, os sentidos enganam-no, a razão engana-o e para complicar tudo pode suceder que um génio maligno não faça senão enganá-lo.
Tendo em conta o texto de Descartes, sendo um acto livre da vontade, a dúvida acabará por nos conduzir a uma verdade incontestável, a afirmação da sua existência, enquanto é um ser que pensa e que duvida. A única certeza que tem é que duvida. Ainda que o génio maligno o engane, é ainda necessário assim que eu exista para ser enganado. Daqui decorre a natureza absolutamente verdadeira da afirmação como mostra o texto “penso, logo existo”, o cogito. Trata-se de uma afirmação evidente e indubitável, de uma certeza inabalável, obtida por intuição, e que servirá de paradigma para as várias afirmações verdadeiras. Como se verifica pelo texto, o problema em causa radica-se na questão da existência, enquanto ser que pensa, ser cuja actividade é pensar, independentemente de ter ou não alguma certeza, o pensamento aqui refere-se à actividade consciente, o que é equivalente à alma, o puro acto de pensar. O cogito é uma intuição racional, uma evidência, algo que não é possível duvidar dele, logo é resistente à dúvida. A sua existência como ser pensante é garantida apenas através do próprio pensamento, conduzindo ao respectivo argumento ontológico, a existência do ser enquanto entidade pensante, esta é a primeira certeza, verdade inabalável, a pedra de toque para a construção de toda a sua filosofia.

3. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

"Todas as percepções do espírito humano reduzem-se a duas espécies distintas que denominarei impressões e ideias. A diferença entre estas reside nos graus de força e vivacidade com que elas afectam a mente e abrem caminho para o nosso pensamento ou consciência.”
Hume, David, Tratado da Natureza Humana, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, p. 29

3.1. Caracterize as duas espécies de percepções a que alude o texto.
R: As duas espécies de percepções – impressões e ideias – caracterizam-se do seguinte modo: as impressões são as percepções que apresentam maior grau de força e vivacidade, abrangendo as sensações, as emoções e as paixões. As ideias ou pensamentos são as representações das impressões, ou seja, são as imagens enfraquecidas das impressões, nunca alcançando vivacidade e força iguais às destas.

4. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

“Nos primeiros estádios de desenvolvimento de uma ideia, comportamo-nos mais como artistas, impulsionados pelo temperamento e pelo gosto pessoal. Por outras palavras, começa-se com um palpite, uma impressão, um desejo até, de que o mundo seja de uma determinada maneira. Partimos então desse pressentimento, permanecendo-lhe fiéis mesmo que os dados observacionais apontem há muito no sentido de estarmos a entrar num beco sem saída, arrastando connosco aqueles que acreditam em nós. Mas o que acaba por nos salvar é que a experiência é o juiz derradeiro, o que resolve todos os desentendimentos. Por mais bem fundamentado que o nosso palpite seja, por melhor que o formulemos, chegará a altura de o pormos à prova contra a dura realidade dos factos. Caso contrário, por mais apegados que estejamos às nossas convicções, elas disso não passarão.”

MAGUEIRO, João, Mais Rápido que a Luz, Gradiva, Lisboa, 2003, pp.22-233

4.1. O papel da Hipótese no processo do conhecimento científico é um momento crucial. Clarifique a questão epistemológica presente no texto.
R: A questão epistemológica presente no texto conduz-nos para o papel da hipótese. Uma hipótese é uma antecipação de factos posteriormente comprováveis, ou seja, é uma suposição que se expressa num enunciado antecipado sobre a natureza das relações entre dois ou mais fenómenos. Trata-se com efeito, de uma explicação provisória de um dado fenómeno que exige comprovação. A hipótese condensa todo o método científico, na medida em que existe em função dos factos observados e acaba por ser a conclusão, no caso de a sua verificação a tornar efectiva. Ainda que o seu carácter provisório lhe retire algum valor, ela é de extraordinária importância ao guiar o cientista na elaboração do plano experimental e pôr em prática para a validar. Se se verificar a sua falsidade, ela continua a ser indicação preciosa, pois sabendo com certeza onde não reside a explicação, o cientista fica com o campo das novas hipóteses mais delimitado. Segundo o texto, a formulação de hipóteses é uma actividade criativa do cientista, associada à intuição e à imaginação. Neste sentido, a hipótese não surge indutivamente da observação, antes resulta de um raciocínio criativo.
A hipótese é o momento criativo e inovador da pesquisa, o momento em que o cientista inventa uma suposta solução, isto é, em que constrói um cenário que desencadeará o processo de conformação ou refutação. A criação de uma hipótese é uma tentativa de explicação e, como tal, tem um carácter provisório, exigindo ser verificável e controlável pela experimentação.

GRUPO III (1X35+1X20=55 pontos)


1. Tenha em conta o seguinte texto:

"Nunca podemos ter a certeza absoluta de que a nossa teoria não esteja perdida. A única coisa que podemos fazer é procurar o conteúdo de falsidade da nossa melhor teoria, o que realizamos tentando refutá-la, isto é, tentando contrastá-la de um modo vigoroso à luz de todos os nossos conhecimentos objectivos e de toda a nossa inteligência. Há sempre, naturalmente, a possibilidade de que a teoria seja falsa ainda que saia airosamente de todos esses contrastes. Se sai airosa de todos estes contrastes, podemos ter boas razões para supor que a nossa teoria, que, como sabemos, possui um conteúdo de verdade superior ao da sua predecessora, possa não possuir um conteúdo de falsidade maior.
Porém, se não conseguirmos refutar as novas teorias, especialmente nos domínios em que a sua antecessora tenha sido refutada, então podemos considerar isto como uma das razões objectivas a favor da hipótese de que a nova teoria constitua uma aproximação da verdade maior do que a anterior.
(...)
Em conclusão: nunca podemos justificar racionalmente uma teoria, isto é, a pretensão de que conhecemos a sua verdade, mas, se tivermos sorte, podemos justificar racionalmente a preferência provisória por uma teoria sobre todo um conjunto de teorias rivais.
(...) Ainda que não possamos justificar a pretensão de que uma teoria seja verdadeira, podemos justificar que tudo parece indicar que a teoria constitui uma aproximação da verdade maior do que qualquer das teorias rivais propostas até ao momento."
Popper, Conhecimento Objectivo, Technos, Madrid: 83/84

1.1. Considerando este Texto, o ponto de vista de Popper sobre a experimentação é um ponto de vista verificacionista ou falsificacionista? Fundamente a sua posição.
R: Falsificacionista. Para Popper, o critério para distinguir o científico do não científico não passa pela confirmação mas pela falsificação, significa que a experiência é usada, agora, com o propósito de testar a resistência da hipótese à sua falsificação. Poper entende o teste experimental como a procura de fenómenos que possam infirmar a hipótese. Assim, a teoria científica é válida enquanto for resistindo à tentativa de a falsificar empiricamente e é tanto mais forte quanto mais resistir. Se o critério da falsificação é mais legítimo do que o da confirmação, então muitos enunciados que se dizem científicos, podem não passar de pseudo-ciência.

2. Indique o significado dos seguintes conceitos, clarificando todas as afirmações que fizer:

(A) – Falsificabilidade
R: A falsificabilidade é o processo, defendido por Karl Popper, de submeter as hipóteses científicas a testes para as refutar (às mais duras tentativas de refutação). O falsificacionismo ou refutacionismo é uma posição encabeçada de Karl Popper, que, ao analisar logicamente o raciocónio tradicional dos verificacionistas, conclui que a ciência incorria na falácia da afirmação do consequente. De facto, as experiências que confirmam as consequências particulares deduzidas da hipótese não autorizam logicamente a conclusão de que as hipóteses são válidas. A verdade do que é particular implica a verdade do que é universal. Logo, nunca se pode comprovar que as hipóteses são verdadeiras. Popper considera que as experiências devem ser feitas, antes, com o objectivo de invalidar as hipóteses, a única coisa que se pode fazer com segurança. De facto, a falsidade da consequência particular implica a falsidade da consequência da hipótese geral. Na perspectiva de Popper, em laboratório, só se pode obter a certeza de hipóteses falsas e não de verdadeiras. Quando as experiências comprovam a hipótese, esta não é uma verdade segura, sendo simplesmente uma conjectura mais ou menos provável que deve continuar a ser submetida a provas de falseamento. As conjecturas manter-se-ao em vigor, enquanto não forem destituídas pela ocorrência de factos particulares que as contradigam.
O falsificacionismo proporciona uma maneira de distinguir as hipóteses científicas úteis das hipóteses irrelevantes para a ciência. Quanto mais falsificável for um enunciado, mais útil é à ciência. Se um enunciado for falso ajudará ao progresso da ciência; se for falsificável, contribuirá para encorajar o progresso o desenvolvimento de uma hipótese que não possa ser assim tão facilmente refutada; se mostrar ser difícil de falsificar, fornecerá uma teoria convincente e quaisquer novas teorias serão ainda melhores. A ciência progride através dos erros. Os cientistas experimentam uma hipótese, verificam se podem falsificá-la e se o conseguirem, substituem-na por outra melhor, que é então sujeita ao mesmo tratamento.

(B) – Testabilidade
R: Testabilidade é a possibilidade de pôr à prova um enunciado, portanto de conformá-lo ou de desmenti-lo. A testabilidade compreende qualquer possibilidade de confirmação, verificação, averiguação e aferição, na medida em que cada uma dessas possibilidades pode redundar na prova ou na falta de prova em questão.
(C) - Ciência como conjectura
R: Conjectura – é a designação dada por Karl Popper a qualquer teoria científica, considerando-a como um conjunto de hipóteses que devem ser submetidas a falsificações sucessivas (isto é, a tentativas de refutação) devendo, se resistirem a essas tentativas, ser consideradas provisoriamente como aceites pela comunidade científica, mas nunca como verdades absolutas. Popper propõe que em vez de teoria se fale em conjecturação e, em vez de verificação, se fale de falsificabilidade.
(D) – Corroboração
R: Corroboração é a aceitação das teorias científicas pela comunidade científica, em virtude da sua resistência científica, em virtude da sua resistência às tentativas de Falsificabilidade. As teorias científicas não devem ser consideradas verdadeiras, mas sim, corroboradas e aceites provisoriamente, por terem resistido à refutação. A partir dos resultados de novas investigações, qualquer teoria pode vir a ser declarada errada, apesar de corroborada.
A clarificar o conceito, como não podemos fazer verificações completas, as teorias nunca podem ser confirmadas em definitivo. Podem é ser “corroboradas”. Para ser corroborada, uma teoria terá de ter resistido às tentativas mais sérias e severas de falsificabilidade e, nessa qualidade de teoria corroborada, será aceite provisoriamente pela comunidade científica, como já frisei anteriormente, que deverá continuar a submetê-la permanentemente à prova.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

CIÊNCIA E CONSTRUÇÃO

Apontamento:

“As teorias nunca são verificáveis empiricamente. (…) é a falsificabilidade e não a verificabilidade de um sistema, que é preciso tomar como critério de demarcação” – Popper, in A Lógica da pesquisa científica

O que faz da Ciência uma forma específica e diferente de outras formas de conhecer é a utilização de um método preciso e rigoroso.
Ciência e método cientifico são duas realidades interdependentes, pois é o método que:
Dá credibilidade aos resultados da investigação
É o critério que permite distinguir os conhecimentos verdadeiramente científicos dos que o não são;
É responsável pela eficácia da investigação.

Método científico é o conjunto de procedimentos e técnicas que se utilizam nas diversas ciências para descobrir, investigar e alcançar os seus objectivos. Abrange os procedimentos ordenados e sistematizados que as diversas ciências seguem para estabelecer leis e teorias científicas.

Método indutivo – é o conjunto de procedimentos que, partindo dos factos, formulam hipóteses a partir de dados de observações.
A indução infere do particular para o geral.

O modelo indutivo do método científico parte de dados de observação, analisa os dados para estabelecer relações entre eles e submete-os a verificação experimental. Uma vez confirmados, transforma-se em leis aplicáveis a todos os fenómenos do mesmo tipo.
O método indutivo, também designado por método experimental, é comumente associado às ciências naturais (designadas ciências exactas ou experimentais que durante o século XIX e princípio do século XX, eram consideradas o padrão de cientificidade, constituindo-se como modelos a seguir por todas as ciências.

Passos fundamentais do método indutivo:

1 – Observação cientifica – Imparcial, rigorosa e neutra (o investigador não pode deixar-se influenciar pelas suas crenças); Metódica e sistematicamente preparada (não ocasional nem fortuita); Utiliza instrumentos e uma sofisticada aparelhagem técnica para prolongar e precisar o alcance dos nossos sentidos; Os dados são medidos, quantificados e registados com a máxima precisão e rigor.

2 – Formulação de uma hipótese – Propor uma explicação ou solução provisória para o problema que se está a investigar. Supõe: análise e interpretação dos factos observados; Sentido criativo do investigador, para descobrir uma relação entre os dados de observação e a causa que os provocou.

3 – Experimentação – Verificação da hipótese, para a confirmar ou rejeitar; Implica a utilização de instrumentos e técnicas; A conformação da hipótese transforma a hipótese em lei científica.

4 – Generalização – A lei que explica os dados observados passa a ser considerada uma lei universal, aplicável a todos os fenómenos do mesmo tipo, mesmo os ainda não observados; Com base nesta lei podemos prever o que irá acontecer no futuro.



O método hipotético – dedutivo

Defendido por Galileu, Descartes e outros criadores da ciência moderna, o método hipotético-dedutivo sustenta que as hipóteses são criações do espírito humano, propostas livremente como conjecturas para melhor relacionar e explicar os fenómenos da natureza.

Lei científica – é um enunciado universal, postulado a partir do processo de experimentação, que sintetiza numa fórmula um padrão contaste de funcionamento da Natureza.

Teorias Científicas – são modelos teóricos descritivos e interpretativos que combinam e interligam conjuntos de leis e hipóteses explicativas coerentes, permitindo deduzir novas leis ou formular hipóteses com vista à explicação de novos factos.

MOMENTOS FUNDAMENTAIS DO MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO

1 – Formulação de uma hipótese – Invenção de uma solução ou construção de um cenário (o momento criativo e inovador da pesquisa) que deve ser verificável 8isto é, deve poder ser confirmado ou rejeitado por experimentação). A hipótese deve ser compatível com os dados que se querem explicar; ser coerente com outras hipóteses anteriormente admitidas; ser susceptível de verificação; servir para prever e explicar os acontecimentos com ela relacionados.

2 – Dedução de consequências preditivas da hipótese – Inferir consequências é deduzir da explicação proposta que é geral, consequências menos gerais. Exemplo: dois corpos com massas diferentes lançados da mesma altura chegam ao solo ao mesmo tempo.
Dedução de consequências da hipótese: então, uma bola de chumbo e uma folha de papel lançadas em simultâneo de uma janela terão de chegar ao solo ao mesmo tempo.

3 – Submissão das consequências da hipótese e as provas experimentais – confronto das consequências deduzidas da hipótese com a experimentação para confirmar ou refutar a hipótese. Implica: definir e precisar as condições do uso de grandezas; criar e ou aperfeiçoar instrumentos de investigação.
Consequência derivada da hipótese a demonstrar: uma bola de chumbo e uma folha de papel lançadas em simultâneo de uma janela terão de chegar ao solo ao mesmo tempo. Os dados de observação contrariam esta consequência.
Formulação de uma nova hipótese: o ar oferece maior resistência à folha de papel do que à bola de chumbo, por isso, no vácuo, a bola de chumbo e a folha de papel chegam ao solo ao mesmo tempo.
Experimentação: fazer cair estes objectos no vácuo e registar os resultados.

4 – Conclusão – Se a experimentação confirma a hipótese, esta passa a lei explicativa dos fenómenos. Se a experimentação refuta a hipótese, segue-se a formulação de uma nova hipótese.

QUESTÕES E PROBLEMAS DA CIÊNCIA

Apontamento:

A ciência é factual e as teorias científicas são apoiadas por factos. Por vezes, nos documentários científicos que retratam os biólogos em acção, vemos os cientistas a observarem cuidadosamente a natureza. Os bons documentários não mentem.
O conhecimento científico começa com a observação sistemática e cuidadosa dos factos. As técnicas de observação utilizadas pelos cientistas garantem a fiabilidade dos dados empíricos. Os dados obtidos são analisados, quantificados, comparados e classificados. Por fim, a partir do conjunto dos dados particulares disponíveis, os cientistas extraem conclusões gerais. As conclusões gerais assim obtidas também são analisadas, comparadas e classificadas, e permitem obter conclusões ainda mais gerais. Deste modo, raciocinando por indução a partir dos dados factuais, os cientistas formulam as leis e as teorias que constituem o conhecimento científico.
Ao tentar explicar e prever aquilo que acontece no mundo, os cientistas concebem hipóteses, isto é, proposições e teorias que deseja que sejam verdadeiras.
Para avaliar uma hipótese cientificamente, é preciso recorrer à observação ou experiência.
E aparentemente uma hipótese pode ser validada ou invalidada pela experiência, isto é confirmada ou refutada pela observação.

Várias questões assaltam-nos:
- O que distingue as teorias científicas das que não são cientificas?
- O que caracteriza o método cientifico?
- A observação pode confirmar as teorias?

Critério da verificabilidade:

O critério da verificabilidade foi proposto pelos filósofos do positivismo lógico, um movimento filosófico radicalmente empirista que exerceu uma grande influência na filosofia da ciência durante grande parte da primeira metade do século XX. Embora os positivistas estivessem interessados sobretudo em encontrar um critério de significado, mais precisamente uma maneira de distinguir as frases declarativas com sentido das frases declarativas absurdas.

Uma teoria empiricamente verificável é aquela cujo valor de verdade pode ser estabelecido através da observação.

Afirmações verificáveis:

- Certas algas são verdes
- Júpiter tem satélites
- Há algas noutros planetas

A primeira afirmação pode ser verificada através da observação quotidiana. A segunda foi verificada pela primeira vez por Galileu através das suas observações com o telescópio. O valor de verdade da terceira frase ainda não foi estabelecido pela observação, mas esta não deixa de ser verificável. Se um dia uma sonda revelar a existência de algas noutros planetas, teremos estabelecido o valor de verdade desta frase através da observação. Para uma frase ser verificável, não é necessário que possamos realizar na prática as observações relevantes para descobrir o seu valor de verdade, basta que, em princípio, o seu valor de verdade possa ser determinado através da observação.

Ora, não é possível estabelecer a verdade das leis da natureza através da observação – não é possível verificá-las empiricamente.
O critério positivista implica que as leis da natureza não são científicas.


O critério de falsificabilidade

O filósofo da ciência Karl Popper foi um dos críticos do positivismo lógico. Popper nunca esteve interessado em encontrar um critério de significado, mas esforçou-se por resolver o problema da demarcação, isto é, por encontrar um critério de cientificidade satisfatório.
Popper diz que, uma teoria é científica somente se for empiricamente falsificável.
Aquilo que distingue as teorias das ciências empíricas das restantes teorias não é a possibilidade de as verificarmos ou comprovarmos através da observação, o que importa, pelo contrário, é a possibilidade de as falsificarmos.

Falsificar empiricamente uma teoria é mostrar que ela é falsa recorrendo a dados obtidos através da observação.

O critério de Popper pode parecer estranho, já que aquilo que nos interessa é ter teorias verdadeiras.

Afirmações falsificáveis:

- Amanhã vai chover ( esta afirmação será refutada caso não chova no dia indicado)
- O lince Ibérico já não existe em Portugal (esta afirmação será falsificada caso se observe um lince – ou vestígios da sua presença – em território português.
- Todo o cobre dilata quando é aquecido (A lei da dilatação do cobre é incompatível com a observação de pedaços de cobre que não dilatem quando são aquecidos – por isso seria refutada pela observação de um pedaço de cobre com essa característica.

Não é possível verificar as leis da natureza ou as afirmações universais em geral – mas é possível refutá-las.
A observação de muitos corvos negros não prova que é verdade que todos os corvos são negros; no entanto, a observação de um único corvo de outra cor seria suficiente para provar que é falso que todos os corvos sejam negros.

Afirmações que não são falsificáveis:

- Amanhã vai chover ou não vai chover ( simples verdade lógica e por isso não pode ser refutada pela observação)
- O lince ibérico foi criado pelos deuses da floresta – não é possível provar a sua falsidade através de dados empíricos
- Há pedaços de cobre que nunca dilatam

- Uma teoria falsificável é aquela que pode ser refutada, se for falsa.
- Segundo Popper, quanto maior é o grau de falsificabilidade de uma teoria mais conteúdo empírico ela tem.

Falsificabilidade – é o processo de confrontar uma teoria com dados de observação na tentativa de provar a sua falsidade.


Nota:
Concebe-se a indução como um método que conduz, através de regras mecanicamente aplicáveis, de factos observados a princípios gerais correspondentes.

Popper sugere que a indução não é necessária para conceber teorias científicas, pois estas são fruto da criatividade intelectual. Por outro lado, a indução não é necessária para avaliar teorias científicas. A avaliação de teorias científicas consiste em tentativas de refutação e, para tentar refutar uma teoria basta recorrer ao raciocínio dedutivo, já que é por dedução que se fazem as previsões empíricas a conformar com a observação.

- Uma teoria corroborada é aquela que, até ao momento, resistiu às tentativas mais sérias e severas de falsificabilidade, isto é de refutação.

Segundo Popper, os cientistas avançam conjecturas ousadas como respostas a problemas, testam-nas, submetendo-as a testes severos, e abandonam-nas, se elas não resistem aos testes.

Popper afirma que as teorias científicas são falsificáveis e que, quando uma teoria é falsificada através de um teste empírico, ela é posta em causa e tem de ser abandonada. Mas uma teoria não pode ser conclusivamente falsificada por uma observação ou por uma experiência, porque um insucesso empírico pode sempre ser atribuído ao teste, ou a um dos enunciados acessórios da teoria, e não aos seus enunciados centrais.

A ciência é uma conjectura – isto é, o conjunto de tentativas de explicação do mundo – porque nunca é possível comprovar uma teoria a partir da observação de todos os casos.

Uma teoria corroborada – isto é, a que resistiu a todas as tentativas para a sua falsificação – é aceite provisoriamente pela comunidade científica, que deverá continuar a submetê-la permanentemente à prova.

Popper propõe:

- Uma nova concepção de ciência – Ciência como conjectura, ou seja, uma sequência de tentativas para solucionar determinados problemas, procurando e provocando os desmentidos da experiência e fazendo da falsificabilidade o critério de demarcação entre Ciência e pseudociência.
- Uma nova atitude do cientista – Valorização do diálogo e da discussão (intersubjectividade). Procurar refutar as teorias, isto é, eliminar o erro como via de clarificação de novos conhecimentos;
- Um novo critério de demarcação entre Ciência e pseudo-ciência – A falsificabilidade em vez de verificação.

FICHA DE TRABALHO

GRUPO I
(com respostas possíveis)
1 – O que é uma afirmação verificável? Explique e dê exemplos.
R: Uma afirmação verificável é aquela cujo valor de verdade pode, em princípio, ser determinado conclusivamente pela observação.

2 – O que é uma afirmação falsificável? Explique e dê exemplos.
R: Uma afirmação falsificável é aquela que pode ser refutada pela observação.

3 – Porque razão Karl Popper propôs a falsificabilidade como critério de cientificidade?
R: Popper propôs a falsificabilidade como critério de demarcação porque este critério não exclui as afirmações que captam leis da natureza, dado que uma afirmação estritamente universável é falsificável.

4 – Considere as seguintes afirmações e indique as que são falsificáveis e as que são verificáveis, justificando a sua escolha.

a) Todos os cisnes são brancos
R: Falsificável mas não verificável
b) Nem todos os cisnes são brancos
R: Verificável mas não falsificável
c) Existem gatos voadores.
R: Verificável mas não falsificável
d) Não existem gatos voadores.
R: Falsificável mas não verificável
e) Esta rosa é vermelha.
R: Verificável e falsificável.
f) Esta rosa não é vermelha.
R: Verificável e falsificável.
g) Na próxima década vai ocorrer um terramoto em Lisboa.
R: Verificável e falsificável
h) Na próxima década pode ocorrer um terramoto em Lisboa.
R: Falsificável mas não verificável
i) Nada se move a uma velocidade superior à da luz.
R: Falsificável mas não verificável
j) 5+7= 12.
R: Nem verificável nem falsificável
k) Se chover, o José perde as eleições.
R: Verificável e falsificável

5 – Considere as seguintes afirmações e aponte qual a afirmação mais falsificável e a menos falsificável. Justifique a sua postura.
a) Todos os planetas têm órbitas elípticas.
R: Afirmação mais falsificável
b) Os planetas do sistema solar não têm órbitas quadradas.
R: Menos falsificável
c) Os planetas do sistema solar têm órbitas elípticas.


GRUPO II

1 – Explique a perspectiva indutivista do método científico.
R: Segundo o indutivismo, a ciência parte da acumulação de dados puramente observacionais. As leis e teorias são inferidas por indução a partir de dados coligidos. Procuram-se depois novos dados de modo a confirmar as teorias e a obter generalizações mais amplas.
2 – Explique a perspectiva falsificacionista do método científico.
R: Segundo o falsificacionismo, a ciência parte de problemas suscitados por teorias e por interesses práticos. As teorias são conjecturas imaginativas que se propõem de modo a resolver problemas. Essas conjecturas são sujeitas a testes que visam refutá-las.
3 – Compare o indutivismo com o falsificacionismo no que respeita ao papel atribuído à observação.
R: Para o indutivista, a observação é o fundamento das teorias científicas: e as teorias resultam da observação e são confirmadas por ela. Para o falsificacionista, a observação serve unicamente para tentar refutar teorias.
4 – O que surge primeiro, a hipótese ou a observação? Explique como Popper responde a este problema.

GRUPO III

1 – “Só as teorias falsificáveis são científicas”. Concorda? Justifique a sua postura.
R: Concordo. Uma teoria das ciências empíricas tem de poder ser testada pela observação. Ora, qualquer teste genuíno envolve a possibilidade de refutação. Por isso, uma teoria ser falsificável é condição necessária para ser científica.
2 – Uma boa teoria sobre o método científico diz-nos como a ciência funciona de facto ou como a ciência deve funcionar?
R:
3 – “A astrologia é uma ciência porque faz previsões verificáveis”. Concorda? Porquê?
R: Não concordo. É verdade que a astrologia faz previsões verificáveis, mas muitas vezes essas previsões são vagas. Além disso, quando as previsões fracassam os astrólogos não revêem as suas teorias.
4 – Que importância tem a indução na ciência?
R: O raciocínio indutivo não é crucial para a concepção de teorias científicas: estas resultam frequentemente da criatividade e não há um conjunto de procedimentos, indutivos ou dedutivos, para se chegar a teorias científicas.
No entanto, na avaliação de teorias científicas a indução é indispensável: uma teoria satisfatória comporta-se bem perante os testes empíricos. Se as suas previsões empíricas ocorrem de facto, isso não mostra apenas que a teoria não foi refutada: o sucesso dos testes aumenta a probabilidade de a teoria ser verdadeira. Isto significa que os dados empíricos favoráveis a uma teoria dão-lhe apoio indutivo, sem o qual não seria razoável acreditar no seu sucesso futuro e nas suas aplicações.
5 – A ciência é objectiva? Justifique.
R: Sim, a ciência é objectiva. Isto não significa que os cientistas sejam sempre imparciais. A garantia da objectividade da ciência é a possibilidade de crítica aberta dentro da comunidade científica, bem como a possibilidade de se repetirem os testes empíricos que alegadamente suportam as teorias.
As teorias científicas são tentativas de descrever correctamente a realidade. Elas têm implicações empíricas: se aquilo que dizem é verdade, observaremos certas coisas em certas circunstâncias. Realizando os testes empíricos apropriados, poderemos ir descobrindo, cada vez com maior precisão, se as teorias estão ou não de acordo com a realidade. E os resultados dos testes são objectivos, pois podem ser reproduzidos e não variam de observador para observador.


FICHA DE TRABALHO

1 – Por que razão o método utilizado pelos cientistas recebe o nome de método experimental?

2 – Quais são as fases do método? Explique-as.

3 – Quando uma hipótese não é apoiada pelos resultados experimentais, como procedem os cientistas?

4 – Por que razão o método utilizado pelos cientistas também recebe o nome de método hipotético-dedutivo?

5 – Podem as hipóteses ser empiricamente verificadas? Justifique.

6 – Como procedem os cientistas, quando testam uma teoria?

7 – Como se testa empiricamente uma teoria?

8 – Segundo Popper, a falsificação das consequências de uma teoria é muito esclarecedora. Porquê?

9 – Que condições tem uma teoria de satisfazer para ser cientifica?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

PASSAGEM OU EXIBIÇÃO

Acerca das coisas... mas quais coisas e o que são as coisas? Onde está isso de que se quer falar? É um aqui já de algo que está disponível. Passagem ou exibição fantástica daquilo que estou por perceber, mas essa tentativa é sempre falhada e o vazio intala-se. Existe alguma coisa afinal... vamos tentar dizer, mas não sei se consigo dizer o que tenho para dizer, porque nesse mesmo acto de dizer, parametrizo-me pela pauta do momento no momento que se consolida um isso que é estranho a mim mesmo. Como é? Porque é assim? Não sei! Vamos todos não sei para onde e se é que vamos para algum lado, posso dizer-te que ir para esse não sei onde, também não me parece possuir assim um sentido brilhante. Sentidos e coisas que se interpelam na grande caminhada que é estranha do olhar e sentir.
A dúvida assalta-me nos mais diversos campos a considerar, desde as lides de casa até ao campo da luz pedagógica, mesmo quando a dúvida filosófica se ergue sem a permissão. Não venho para aqui produzir filosofia, não é essa a minha intenção, nem sou filósofo, mas gosto de filosofia, como tal, proponho-me ser aprendiz de filósofo. E para que serve tudo isto? Alguma utilidade? Em que área?
Liga a televisão e assiste ao telejornal, escuta com atenção e questiona-te acerca da utilidade da filosofia! Primeiro tens a noção do que é a filosofia? Não vou falar da filosofia porque isso era fazer outra viragem e o tema não é esse. Mas a filosofia consiste num amor pelo saber. E o que sabes tu e como é que sabes? Quais as tuas certezas e como resolves os teus problemas? O que é que te preocupa neste momento? Alguma coisa interessante? Doença, lar, morte... ordenado? Criminalidade? País? A crise que atravessamos? Os conflitos de gerações? A sexualidade e as suas manifestações? O racismo? Afinal pensas com o quê? Quem és tu que viste ler isto? Porque viste ler isto? Acreditas em Deus? Na vida para lá da morte? E se acreditas em alguma coisa, para que serve tudo isso? O que é a felicidade? Como a sentes? será que podemos ser todos felizes? Complicado! E então serve a filosofia para alguma coisa? E serve, como explicas? Como consegues fundamentar tudo isso? Conheces alguns filósofos? Quem? Que sabes acerca deles? Que obras já leste? E o que conseguiste colocar em prática na tua vida? Bem... imensas questões. Vamos debater acerca da utilidade e inutilidade da filosofia? És capaz? Ou és daqueles que nem consegue abrir a boca para nada? Bem... vamos pensar no assunto.
E de tecnologias entendes alguma coisa? O que sabes afinal? E da blogosfera? Alguma coisa? Qual o teu blog? O que colocas lá e se o fazes, porque colocas lá alguma coisa? O que é que é mais importante para ti nesta vida? As aulas, os amigos, a familia, o dinheiro? Quem é? E porque é? És capaz de responder? Atreveste a comentar este escrito da treta? Mas será da treta? O que é que isso significa? Diz se fores capaz, se acaso gostas de filosofia, se te achas inteligente...

06.05.2009
Jorge Ferro Rosa

quarta-feira, 15 de abril de 2009

NA ROTA DA RACIONALIDADE CARTESIANA

Apontamento:

Etimologicamente, a palavra conhecimento significa "captação conjunta" e "compreensão".

"Não é no espaço que devo procurar a minha dignidade,
mas na direcção do meu pensamento.
Não terei mais de possuir mundos.
No espaço, o universo cerca-me e engole-me como um átomo: com o pensamento compreendo o mundo.
" - Blaise Pascal, Pensées.


Mas afinal o que é o racionalismo?
Sobre Descartes :
O método filosófico de Descartes inspira-se no método analítico da matemática e da física, tal como ele se desenvolvera no século XVII. Descartes quis, pois, transferir o método da matemática (ou da física matemática) para a filosofia; o método estabelece firmemente que, no pensamento científico ou filosófico, sigamos a “ordem das razões”, o nexo das “naturezas”, e não a “ordem das coisas”. Só há explicação, quando algo se insere na conecção de razão e consequências. Uma simples ordem classificatória não proporciona qualquer explicação. A tarefa nuclear do método é ordenar as proposições, os estados de coisas que lhes correspondem, de modo a que os últimos se fundamentem mediante os primeiros. O estabelecimento da ordem é tarefa do método.

O método de Descartes é método de inquietude e de esforço. A procura de clareza é penosa, difícil – e muito longa, visto que é infinita – arruína e destrói as antigas tradições, as antigas certezas, os ídolos do nosso pensamento. É o preço que se paga para atingir o verdadeiro. O objectivo de Descartes é encontrar alguma coisa de que se não possa duvidar e que, ao mesmo tempo, lhe permita abandonar a dúvida. Descartes coloca em dúvida as evidências sensoriais, já que os sentidos nos enganam por vezes, como tal, estes não poderiam ser um critério para distinguir a verdade da falsidade.

O Racionalismo surge como uma forma possível de encarar o problema do conhecimento, assim, apresenta a razão, o pensamento, como a única fonte credível do conhecimento, pois só a partir dela se adquirem conhecimentos universalmente válidos e logicamente necessários; a matemática apresenta-se como o exemplo a seguir.

Dito de outra maneira, o racionalismo é a corrente filosófica ou doutrina que afirma que tudo que existe tem uma causa inteligível, mesmo que não possa ser demonstrada de facto, como por exemplo a origem do universo. O racionalismo privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao conhecimento. O racionalismo é baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, a razão.

Os racionalistas consideram que só é verdadeiro conhecimento é aquele que for logicamente necessário e universalmente válido, isto é, o conhecimento matemático é o próprio modelo do conhecimento.

Do ponto de vista do racionalismo, várias foram as posições. O apontamento que se segue, está na linha do racionalismo cartesiano.
A forma mais antiga de racionalismo talvez tenha sido representada por Platão. Como considera que o mundo da experiência está em constante mutação, o saber que dele se obtém não pode ser considerado verdadeiro. Não podemos, pois, confiar nos dados fornecidos pelos sentidos.

Logicamente, os conteúdos credíveis da nossa consciência só podem provir de um mundo imutável, transcendente a este em que nos encontramos e que Platão designa por mundo inteligível. Aí se encontram as ideias, que são a verdadeira realidade, e que o homem contemplou numa existência pré-terrena. O conhecimento consiste na recordação destas ideias. Como as ideias que se encontram na alma humana têm a sua verdadeira origem no mundo supra-sensível, o racionalismo platónico ficou conhecido por racionalismo transcendente.

Segundo a interpretação racionalista, as ideias fundamentais para o conhecimento humano são inatas, ou seja, originárias da razão. Quer essas ideias se encontrem na mente como algo acabado, como considera Descartes, quer elas se assemelhem a embriões que futuramente serão desenvolvidos, como defendia Leibniz, a alma humana nunca é uma tábua rasa despida de ideias, como afirmavam os empiristas.

Descartes diz que, para bem conhecer o real, o real físico tal como se encontra em si mesmo, tal como se encontra fora de nós, precisamos antes de tudo de recusar qualquer contribuição e qualquer informação que nos venham, ou pareçam vir, de fora, ou seja, qualquer contribuição e qualquer informação que nos venham da percepção sensível, (dos sentidos) que só nos poderiam induzir em erro.

Precisamos de fazer tábua rasa do nosso mundo habitual - o senso comum, aí está o inimigo - e excluir do real tudo o que, comummente, nos parece pertencer-lhe: a cor, o calor, e mesmo a dureza e o peso.
Para conhecer o real precisamos de começar por fechar os olhos, tapar as orelhas, renunciar ao tacto; precisamos, pelo contrário, de nos virar para nós mesmos, e procurar, no nosso entendimento, ideias que sejam claras para ele.

O método de Descartes é método de inquietude e de esforço. A procura de clareza é penosa, difícil – e muito longa, visto que é infinita – arruína e destrói as antigas tradições, as antigas certezas, os ídolos do nosso pensamento. É o preço que se paga para atingir o verdadeiro.
O método é o único caminho capaz de nos libertar do erro, da indecisão e da dúvida, e levar-nos ao conhecimento da verdade. O método são "regras certas e fáceis, permitindo ao que as observar exactamente não tomar nada falso por verdadeiro, e obter sem esforços inúteis do seu espírito, mas aumentando sempre o seu conhecimento por degraus, o conhecimento verdadeiro do que ele for capaz de saber" - Descartes, Regra 4. Diz Châtelet que "a filosofia não é apenas uma ciência que se conforma ao método; é a ciência que recebe do método a função de fornecer às demais ciências os seus princípios."



As regras do método: Evidência (Clareza e distinção); Análise (intuição); Síntese (dedução e ordem); Enumeração (é a revisão, tão geral que permita ter a certeza de nada omitir). Enquanto a análise é um processo de divisão até chegar às naturezas simples captadas pela intuição, a síntese é uma reconstrução dedutiva do complexo a partir do simples, seguindo uma determinada

A dúvida é como a pedra-de-toque da verdade, o ácido que dissolve os erros. A dúvida possui algumas características: radical, voluntária e livre, provisória, metódica e hiperbólica. A dúvida metódica é uma dúvida provisória e a dúvida céptica é uma dúvida permanente.

A dúvida hiperbólica apresenta a hipótese de um génio maligno.

As ideias são modelos do meu eu e representações da realidade objectiva. Descartes é um dualista, dado que, a par da razão, substancia pensante a que chama res cogitans, admite a existência de mundo físico que se revela à razão pela extensão (chama-lhes res extensa).

Descartes distingue três tipos de ideias: inatas, adventícias e factícias.

As ideias adventícias são aquelas que nos chegam a partir dos sentidos.
Ideias adventícias – são aquelas que provêm do exterior, dos objectos captados pelos sentidos. Porém, elas apresentam-se ao espírito de modo obscuro e confuso, pelo que há que duvidar delas, nada garantindo que correspondam às coisas reais. Como são enganadoras, também não podemos confiar nelas quando o objectivo é a obtenção de um conhecimento verdadeiro. Ideias adventícias porque são variáveis.
As ideias factícias são provenientes da nossa imaginação, uma combinação de imagens fornecidas pelos sentidos e retidas na memória cuja combinação nos permite representar (imaginar) coisas que nunca vimos. Por exemplo, cavalo alado, fadas, elfos, duendes, dragões, Super-Homem, etc. São as fabulações das artes, da literatura, dos contos infantis, dos mitos, das superstições, etc.

Ideias factícias – são aquelas que são formadas pela imaginação, isto é provêm da nossa capacidade de inventar a partir de coisas materiais, ideias representativas de seres quiméricos, puras ficções do espírito humano. Estas ideias podem ser geniais no contexto da arte, mas nada têm a ver com o conhecimento verdadeiro da realidade. Ideias factícias se são resultantes da imaginação.

As ideias inatas, são claras e distintas, não são inventadas por nós mas produzidas pelo entendimento sem recurso à experiência. Elas subsistem no nosso ser, em algum lugar profundo da nossa mente, e somos nós que temos liberdade de as pensar ou não. Representam as essências verdadeiras, imutáveis e eternas, razão pela qual servem de fundamento a todo o saber científico.
Por exemplo, a ideia do infinito (pois não temos qualquer experiência do infinito), as ideias matemáticas (a matemática pode trabalhar com a ideia de uma figura de mil lados, o quiliógono, e, no entanto, jamais tivemos e jamais teremos a percepção de uma figura de mil lados), etc.
As ideias inatas são "a assinatura do Criador" no espírito das criaturas racionais, e a razão é a luz natural inata que nos permite conhecer a verdade. Como as ideias inatas são colocadas no nosso espírito por Deus, serão sempre verdadeiras, isto é, sempre corresponderão integralmente às coisas a que se referem, e, graças a elas, podemos julgar quando uma ideia adventícia é verdadeira ou falsa e saber que as ideias factícias são sempre falsas (não correspondem a nada fora de nós).
Para além das ideias adventícias e factícias os homens possuem ideias inatas, ideias que, nascidas connosco, são como que a marca do criador no ser criado à sua imagem e semelhança.
Para DESCARTES só as ideias INATAS são "claras e distintas" ( 1ª Regra do Método), só elas podem oferecer um fundamento verdadeiramente capaz para edificar um conhecimento seguro.
As Ideias Inatas pertencem à nossa Razão, e não têm existência senão nela, porque aí foram depositadas pelo Ser Perfeito, Criador, sustentador ontológico e gnosiológico. Assim sendo, o conhecimento verdadeiro, seguro, só pode ter a sua origem na Razão - os sentidos só podem oferecer dados confusos e obscuros.
As ideias inatas são claras e distintas, o que significa que constituem um fundamento sólido para a razão trabalhar sem limites, desde que faça um uso correcto das suas possibilidades cognoscitivas. Inatas porque não dependem da experiência e são reconhecidas pela razão. Só as ideias inatas podem resultar conhecimentos universais e necessários. Tais ideias são princípios claros e distintos a partir dos quais e da dedução se constrói o saber de que as ciências matemáticas são o padrão.

Todo aquele que desejar possuir um conhecimento inabalável ( que resista à dúvida - demolidora, hiperbólica, metódica),um conhecimento Claro e Distinto, esse só pode encontrar tal conhecimento na Razão," a coisa no mundo melhor distribuída", mas que necessita que se faça dela um uso devido "Metódico" para explorar todas as suas possibilidades cognoscitivas.
As ideias inatas são fundamentalmente os conceitos matemáticos e a ideia de Deus.
Ideias inatas – são originárias da razão, fazendo parte da estrutura racional do homem. Colocadas na alma por Deus, são as únicas que se prestam a um verdadeiro conhecimento. É que, como Deus não é enganador, elas têm que corresponder a algo real. Por isso, o único conhecimento seguro é o que se obtém pela dedução de consequências lógicas dessas ideias.

Descartes no seu inatismo traduz a profunda confiança que tem na razão. A razão é a fonte de todo o conhecimento seguro e verdadeiro, faculdade universalmente partilhada, a razão ou bom senso é aquilo que define o homem como homem, o que o distingue dos outros animais.

Argumento ontológico:
Descartes diz que, só um ser perfeito pode ter posto em nós, seres imperfeitos, esta ideia de perfeição, pois o efeito não pode ser maior do que a causa, como tal, a evidência deste ser perfeito torna-o necessariamente existente.
"Para me poder enganar é necessário que eu seja ou exista como coisa que pensa (...). Mesmo admitindo que todas as minhas ideias são falsas pressupõe-se que tenho essas ideias." A certeza do eu sou e a clareza do eu penso resistem aos esforços da dúvida, por mais radical que seja. O pensamento implica o ser que pensa, dúvida e nega. Assim, o "Penso logo existo" apresenta-se como apreensão clara e distinta (intuição). O cogito surge como a primeira evidência (clara e distinta) que permite superar a dúvida, critério de verdade (modelo de evidência) e fundamento primeiro da nova filosofia.
A nossa razão não é vazia, o pensamento pensa as ideias. As ideias são como realidades objectivas e como realidades mentais.
Síntese:
As ideias inatas são as mais simples que possuímos (simples não quer dizer "fáceis", e sim não-compostas de outras ideias). A mais famosa das ideias inatas cartesianas, isto é, segundo Descartes, é o "Penso, logo existo". Por serem simples, as ideias inatas são conhecidas por intuição e são elas o ponto de partida da dedução racional e da indução, que conhecem as ideias complexas ou compostas.
Assim:
Descartes é um dos representantes modernos do racionalismo.
O racionalismo cartesiano está intrinsecamente associado à sua teoria acerca das ideias. Descartes considera que o homem possui três tipos de ideias: as factícias, as adventícias e as inatas.
Para Descartes, conhecer é ter ideias. Estas podem ser:
Como as ideias inatas não resultam da contemplação de um universo inteligível, antes são algo que faz parte da estrutura da razão humana, a posição de Descartes é conhecida por racionalismo imanente ou inatista.
Ao pressupor a existência de ideias inatas na consciência do sujeito, o racionalismo considera que o conhecimento tem um fundamento de tipo estrutural. As ideias constituem uma estrutura anterior à percepção e com a qual a realidade percepcionada tem de estar de acordo.
Descartes, depois de analisar as evidências sensoriais, verificou que os dados dos sentidos por vezes enganavam: logo, a evidência sensorial não pode ser aceite como critério para distinguir o verdadeiro do falso.
Busca então uma evidência que se apresente indubitável por ter a forma de ideia clara e distinta; chega assim à célebre afirmação “Penso, logo existo”. Todo o conhecimento, para ser válido, deve ser deduzido deste e de outros também válidos, em raciocínios de tipo dedutivo “à maneira dos matemáticos”.
Segundo Descartes, o conhecimento logicamente deduzido das ideias inatas é verdadeiro;
O racionalismo cartesiano é sinónimo de inatismo, uma teoria de base estrutural;
O sujeito tem ideias inatas na consciência;
O sujeito submete-se às ideias inatas que correspondem ao objecto;
O racionalismo defende que as ideias básicas a partir das quais se chega a todos os conhecimentos são originárias da razão;
A dúvida é um instrumento metodológico para atingir a verdade, constitui um procedimento. A dúvida cartesiana é metódica e provisória, com o seu método passa a ser lógica, servindo para atingir a verdade, sendo esta também metodológica.
O conhecimento racional, tem necessidade lógica e validade universal;
A Matemática é o modelo de conhecimento do Racionalismo;
Não basta garantir o fundamento do Cogito, é preciso garantir o fundamento da própria existência (plano ontológico), no entanto Deus garante a nossa existência e a própria veracidade da sua existência (fundamento ontológico);
O Cogito é a garantia da evidência das coisas (plano epistemológico);
Conceitos a saber:

Intuição – é a captação imediata da evidência de uma ideia, é uma espécie de luz natural da razão que nos leva a descobrir as verdades inatas que servirão de fundamento, isto é, de ponto de partida e justificação para todo o sistema. A intuição é o processo lógico de inferência que consiste em derivar um conhecimento geral a partir de afirmações sobre alguns factos observados, ampliando o nosso conhecimento. A indução supõe um salto lógico, pois partimos de afirmações sobre casos particulares, e generalizamos, concluindo que é válido para todos os casos. No método científico, a perspectiva indutivista sustenta que a ciência começa com a observação e classificação de factos, a partir das quais, por generalização, se induzem hipóteses que são submetidas à experimentação. Se resistirem às exigências das provas experimentais, são confirmadas e aceites como leis válidas.

Dedução - "é a operação que permite passar de um termo a outro, apoiando-se na sua relação". É uma inferência de tipo matemático, e não silogística. Não é mais do que uma intuição sucessiva a partir de naturezas simples e das suas conecções.

Transcendente – O que se situa para além ou fora de um domínio considerado e que não é da mesma natureza. Aparece, muitas vezes, associado a uma ideia de superioridade, como algo que está acima e que é de uma natureza superior. Por exemplo, o Deus da Bíblia é transcendente ao mundo.

Imanente – O que é interior ao ser ou ao objecto do pensamento.

Ficha de trabalho

GRUPO I

1 – Clarifique o sentido de intuição e dedução.
2 – Faça a distinção entre transcendente e imanente.
3 – Caracterize o racionalismo cartesiano.
4 – Quais as ideias fundamentais do racionalismo.
5 – Qual o papel da dúvida e a sua aplicação no pensamento de Descartes?
6 – Em que consiste uma ideia clara e distinta?
7 – Qual a importância do “Eu penso, logo existo” para o sistema cartesiano?
8 – De onde provêm as nossas ideias verdadeiras segundo Descartes?
9 – Como é ultrapassado o solipsismo cartesiano?
10 – Qual a primeira verdade que Descartes encontra e por que a considera como tal?
11 – Como explica a hipótese do génio ou deus maligno ou manhoso na filosofia cartesiana?
12 – O que é conhecer com a razão segundo Descartes?

GRUPO II
1 – Elabore um pequeno texto em que mostre a razão de o falso e o verdadeiro estarem ao mesmo nível, não havendo, como tal, graus de verdade.
2 – Quais os argumentos apresentados por Descartes para demonstrar a existência de Deus?
3 – Clarifique o argumento ontológico cartesiano.
4 – Esclareça a posição cartesiana quanto à origem do conhecimento.

GRUPO III
1. Atente às afirmações que se seguem e assinale as que são verdadeiras com um V e as que são falsas, com um F.

a) Para os racionalistas, os sentidos não podem ser a fonte do conhecimento verdadeiro porque nos enganam algumas vezes; - V
b) Os racionalistas situam a fonte do conhecimento na razão; - V
c) Os filósofos racionalistas, como Descartes, buscam o conhecimento absoluto; - V
d) O racionalismo nega a existência de ideias inatas; - F
e) O racionalismo considera a Matemática como modelo de conhecimento; - V
f) A hipótese do génio maligno é usada por Descartes para demonstrar que não é possível atingir a verdade; - F
g) Para Descartes, é mais real a existência do eu pensante ou cogito do que a existência do corpo e do mundo que nos rodeia; - V
h) Para Descartes a ideia de Deus é uma ideia inata; - V
i) Para Descartes, o conhecimento verdadeiro não existe; - F
j) Na filosofia cartesiana, Deus é a garantia da verdade de todo o conhecimento; - V
l) Para os racionalistas, só o conhecimento racional permite conhecer a realidade; - V

QUESTÕES DE RACIONALISMO EM DESCARTES

Apontamento:
O objectivo fundamental do pensamento de Descartes é a reforma profunda do conhecimento.

Interrogando:
- Será que sabemos o que pensamos saber?
- O que é que nos permite distinguir a verdade da ilusão?
- A maneira como pensamos que sabemos acerca das coisas será a mais correcta?
- Não estarei eu enganado quando admito a possibilidade de que estou certo?

Muitos sujeitos falam das coisas com uma convicção tal, até impondo a sua autoridade, para fazer valer os seus argumentos, tipo ditadura e prosseguir à situação seguinte, como se fosse o maior perante os outros, a sua presença até instaura o medo, ilibando possíveis objecções. Para alguns a dúvida parece terrível, ela é mortal, assassina do sistema perante a legitimidade desses que entendem tirar partido do jogo da persuasão em consonância com a manipulação.

- Como é que sabemos que o que vemos capta a maneira como as coisas realmente são? (dúvida filosófica).
- Uma coisa é a dúvida que se sustenta e outra é a dúvida que se dissipa.
- Não será que existe algo que alimente o cérebro de modo a que tal situação conduza a que se raciocine erradamente?
- O que é que me leva a aceitar e tomar certa postura?

- A dúvida filosófica é um tipo especial de dúvida, tem as suas características.

- Será que os nossos conhecimentos são certos, serão eles verdadeiros?

- O céptico vê sempre a razão para mais uma pergunta! O céptico pergunta infinitamente e diz ter boas razões para concluir que não temos conhecimento.
- As crenças começam por entrar em conflito, atingindo o seu estado de ebulição.

- Qual a legitimidade dos sistemas de avaliação?
- É necessário encontrar um critério imparcial e último de verdade.

Cada critério que se encontra exige, por sua vez, um outro critério que garanta a verdade do primeiro. Estamos condenados a uma regressão infinita!

- Será que o céptico tem equilíbrio mental? Não será um esquizofrénico?
- A dúvida permite transformar o modo de pensar.
- Quando duas pessoas discordam, a violência não produz o milagre de justificar a verdade das suas crenças.
- Se as crenças não estão justificadas então não há conhecimento.
- Será a justificação uma razão qualquer?

Descartes tem uma visão matemática do real.
Assim, na Filosofia cartesiana Descartes faz o seguinte percurso:
Filosofia - Árvore
Metafísica - Raízes
Física - Tronco
Todas as ciências - Ramos
(Medicina, Mecânica, Moral)

Moral - é a ciência perfeita segundo Descartes, porque pressupõe conhecimento das outras, tem o mais alto grau de sabedoria. A Filosofia (utilidade) depende das partes.

O método cartesiano - inspirado no rigor matemático.
Descartes norteia a sua actividade intelectual pelo objectivo da procura da verdade.
Descartes procura um método capaz de desenvolver e orientar o pensamento e facultar ao homem a possibilidade de chegar, por si só, ao verdadeiro saber.
É o método que consegue conferir à razão humana a possibilidade de, a partir de princípios que lhe são imanentes, progredir pela dedução e chegar à verdadeira certeza dos conhecimentos.

Método - É o caminho mais segura para atingir um determinado fim. O método refere-se à ordem que a razão deve seguir de modo a alcançar o autêntico conhecimento.
O método cartesiano identifica-se com o perfeito uso da razão, ou seja, com a aplicação correcta das leis do espírito.

REGRAS DO MÉTODO CARTESIANO
1 - Regra da evidência - diz que nada deve ser admitido pelo espírito como certo se não for absolutamente evidente. As ideias são evidentes quando se apresentam, ao espírito, com clareza e distinção, ou seja, com uma definição e uma nitidez tais que não podem, de modo algum, ser confundidas com nenhuma outra. A intuição capta a simplicidade do que é claro e distinto.
(Intuição - é a apreensão rápida imediata da simplicidade de uma evidência. É uma espécie de visão que o espírito tem das ideias claras e que lhe confere o sentimento de conhecer com total e indiscutível certeza).
A intuição é a fonte primordial de todo o conhecimento já que é através dela que se atinge a simplicidade e a clareza das primeiras verdades ou principios (a intuição é imediata).
2 - Regra da análise - Nesta regra deve-se decompor o complexo em pequenas parcelas simples, em ordem a uma captação mais fácil e mais certa. Qualquer problema complicado é susceptível de redução a problemas simples. O complexo divide-se no simples, tantas vezes, quantas s necessárias para que a dificuldade inicial fique resolvida.
3 - Regra da Síntese - É a regra da dedução ou da ordem. Nesta regra deve-se conduzir por ordem os pensamentos, começa-se pelos objectos mis simples e mais fáceis de conhecer, ascendendo conforme a dificuldade. O espírito deve fazer a reconstituição do complexo, conduzindo os pensamentos por ordem. Começa-se a compreensão pelas coisas fáceis até às mais difíceis. [Esta regra é um complemento da regra anterior].
4 - Regra da Enumeração ou Revisão - Nesta regra tem a ver com a necessidade de entrar em linha de conta com todos os dados do problema e de rever cuidadosamente e minuciosamente todos os elementos implicados na sua solução, a fim de se ter a certeza de nada ter esquecido, sem que a sua resolução não poderia ser totalmente correcta.

- - - Com as quatro regras do método, Descartes julga ser possível o alcance de conhecimentos seguros, seja qual for o domínio do real a que respeitem.

- - - Descartes preconiza a resolução de problemas matemáticos como forma de exercitar a razão, pois só assim ela adquirirá o método, ou seja, se habituará a pensar bem, se acostumará a pensar matematicamente.

- A intuição - caracteriza-se pela sua natureza racional, é um acto de inteligência.
- Dedução - resolve os problemas mais complexos. A dedução é o acto pelo qual o espírito conclui, a partir de verdades conhecidas com certeza, outras verdades que lhe estão necessariamente ligadas.

ROPTURA DOS SENTIDOS OU A BUSCA DE SENTIDO

Dizer o mesmo que toda a gente? Mas dizer o quê e com que finalidade? Mais um! Sim, mais um somado a tantos outros que por ai vão surgindo. Surgimos na grande situação... o que há a dizer? Rejeitar aquilo que os sentidos nos dão e procurar outra resposta dizendo de modo diferente o que já foi dito? Como é? Na caminhada da vida, as situações vividas vão-nos desiludindo, porque não são bem como esperávamos ou o que temos não nos preenche! Que direi? Talvez deppois... caminho, talvez seja necessário começar de novo, na tentativa de enconrar respostas inabaláveis, assim como Descartes o fez, como Damásio o encontrou pelo confronto com o mestre do racionalismo. Firmeza e constância no percurso é o que se pretende. A tradição ao longo dos tempos veio-me desiludindo e nada trouxe de novo e sou o que sou, sem que mais me importe do que possas pensar, sentir ou talvez não dizer. Conhecimentos somam-se a conhecimentos. Mas falta sempre qualquer coisa, foi o que te disse na aula, depois nas conversas de café, enquanto discutiamos sobre o livro "O mundo de Sophia", lembras? Interessante! Meditações seguiram-se... o original apaixona, contudo os atritos são sempre complicados, os conflitos e uma panóplia de embirranços são entraves. Nha nha nha era o que murmuravas, não fosses isso mesmo. Mas não interessa. Entende o racionalismo, fazemos fé na razão, somente ela pode operar no momento certo para clarificar aquilo que ficou nas entrelinhas.
Um método não seria mau de todo para endireitar a postura do pensamento, ordenando assim as verdades...

Vila Real de Santo António, 15 de Abril de 2009
Jorge Ferro Rosa

quarta-feira, 18 de março de 2009

INTERPOLANDO O CONHECIMENTO

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David Hume tem três problemas para resolver:

1 – A origem das ideias – de onde provém o nosso conhecimento?

2 – A associação de ideias – como procede o espírito para raciocinar e constituir os nossos conhecimentos?

3 – A validade das ideias – Como saber se determinada representação corresponde a um verdadeiro conhecimento e não a um pseudoconhecimento sem conteúdo?

Enquanto empirista, a sua resposta a estes três problemas reside na experiência, pois:

1 – é daí que provém todo o conhecimento;
2 – a associação de ideias não se baseia em princípios a priori, como para os racionalistas, mas resulta do hábito, ele próprio fundado na experiência;
3 – a única forma de saber se há um conteúdo objectivo numa ideia é decompô-la em outras tantas experiências sensíveis elementares das quais ela pode ser derivada.

David Hume chamou de percepções aos diversos conteúdos mentais de que temos experiência: sensações, sentimentos, pensamentos, desejos, etc. Em seguida, dividiu as sensações em impressões e ideias.
Hume entendia por impressões as sensações provenientes dos sentidos, mas também os sentimentos e as emoções. As ideias por sua vez, seriam os ingredientes de que são feitos os nossos pensamentos (os traços mentais, as cópias das impressões sensíveis). O prazer que sinto ao reencontrar um velho amigo, por exemplo, é uma impressão; o prazer que imagino que virei a ter quando o reencontrar é uma ideia. E o mesmo acontece com as sensações: o vermelho do tecido que seguro na mão é a causa da impressão de vermelho que neste momento experimento; o verde que me recordo de ter visto ontem e no qual estou agora a pensar é apenas uma ideia.
As ideias e as impressões distinguem-se não pelo conteúdo mas pela intensidade com que se apresentam na mente. As ideias são menos intensas do que as impressões e as impressões mais vividas do que as ideias. Mas, mais propriamente, as impressões e as ideias não se distinguem pelo conteúdo porque as primeiras são uma cópia das segundas. As ideias são um produto da memória ou da imaginação.

A tese de Hume de que as ideias são cópias das impressões tem a apoiá-la o facto de, por exemplo, um cego de nascença ser incapaz de ter uma ideia das cores.

Se a ideia de verde não fosse uma cópia da impressão de verde e, portanto, não tivesse nela a sua origem, seria de esperar que um cego de nascença, apesar de não poder ter a experiência da cor, pudesse formar uma ideia de verde. Infelizmente, não é isso que se verifica. Também não é possível ensinar a uma pessoa que nunca desenvolveu o sentido da audição em que consiste o timbre de um saxofone ou de um acordeão.
Mas a tese de que as ideias são cópias das impressões não significa que só possamos conceber objectos que sejam acessíveis aos sentidos. Podemos perfeitamente conhecer uma montanha de ouro sem existirem montanhas de ouro e, portanto, sem que nos tenha sido possível observar uma. Mas a ideia de uma montanha de ouro pode ser decomposta em elementos, cada um dos quais é cópia de uma impressão particular. Temos impressões relativas a montanhas e impressões relativas a ouro. As duas coisas não estão ligadas na realidade, mas podemos ligá-las pela imaginação.
A tese da cópia aplica-se apenas às ideias simples (como as de montanha de ouro) e não às ideias complexas que formamos com base nelas. Este princípio geral aplica-se a todas as nossas ideias, incluindo as mais abstractas.

O aspecto crucial da teoria das ideias de Hume é, contudo, o facto de ela implicar que todo o conhecimento tem uma origem empírica. Dado que, segundo este princípio, não há ideias que já nasçam com o sujeito (ideias inatas), os limites do conhecimento coincidem com aquilo de que é possível ter experiência.

David Hume dividiu os objectos que podem ser investigados pela razão humana em dois domínios: relações de ideias e questões de facto. A Matemática e a Geometria tratam de relações de ideias; as proposições empíricas em geral constituem exemplos de questões de facto.

Segundo Hume existem leis que dirigem a combinação das ideias:

1 – A semelhança (um retrato faz lembrar o original);

2 – A contiguidade no espaço e no tempo (perante um casal unido, a ideia de um leva a pensar no outro);

3 – A causalidade (perante o efeito, pensa-se na causa; perante a causa, pensa-se no efeito).

Se perguntássemos a David Hume como adquirimos a crença de coisas das quais habitualmente não temos experiência como, por exemplo, ver uma chama e concluirmos que queima, Hume responderia que partimos de uma impressão real – a visão da chama – e supomos uma relação causal – entre a chama e o calor.

Hume começaria por dizer que esta crença não provém da razão, pois a razão só por si não nos pode dizer que as chamas queimam – é concebível que um fogo possa ser frio, e se isto é concebível, é portanto, possível.
Depois diria também que tão-pouco a razão e a experiência juntas podem produzir tal crença. A nossa experiência está confinada a determinadas zonas do espaço e do tempo, e dentro destes limites encontrámos alguma vez o facto das chamas queimarem.
Portanto concluiria, quem origina as nossas crenças é o hábito, o costume.
A experiência repetida entre chama e calor cria uma associação de ideias.

O empirismo afirma, por exemplo, que quando como uma maçã recebo uma série de impressões (é verde, cheira bem, é suculenta, etc.) e que estas impressões simples reúnem-se e formam a impressão complexa – “maçã”.
Passa-se o mesmo com todas as ideias complexas – conceitos – que possuímos. Qualquer ideia tem, portanto, origem numa impressão e deve poder relacionar-se com a impressão correspondente.
Assim, o princípio básico do empirismo é o seguinte: as nossas ideias e opiniões acerca da realidade provém dos sentidos.

Vejamos alguns exemplos:

1 – A ideia de cavalo alado – esta ideia resulta da combinação da ideia de cavalo com a ideia de animais com asas. Há impressões correspondentes às ideias de cavalo e de animal com asas, mas não há nenhuma impressão correspondente à ideia de cavalo alado. Que concluir? Que esta ideia resultou do trabalho combinatório da mente e é falsa por não existir nenhuma experiência sensorial deste animal;

2 – A ideia de Deus – haverá alguma impressão/sensação correspondente? Se não há, então a ideia de deus é uma criação da razão a partir de ideias como “inteligência”, “sabedoria”, “bondade”, etc- Se nunca tivéssemos tido experiências da inteligência, da sabedoria e da bondade não poderíamos moldar estas ideias nem a ideia de Deus, que é uma combinação destas. E porque não tem uma impressão que lhe corresponde, esta ideia é uma criação ilusória da razão.


FICHA DE TRABALHO


GRUPO I

Tenha em conta o que se solicita e assinale para cada resposta a frase correcta:

1 – O conhecimento é:
a) A actividade do sujeito
b) A simples representação do objecto
c) O produto da relação entre um sujeito e um objecto
d) Uma actividade sem intervenção de nenhum sujeito.

2 – Os contra-exemplos de Gettir são relativos à:
a) Ética
b) Estética
c) Lógica
d) Teoria do conhecimento

3 – David Hume distingue ideias de impressões.
a) Porque as ideias nascem com o sujeito e as impressões são adquiridas.
b) Devido ao respectivo conteúdo
c) Porque as impressões são cópias das ideias
d) Porque as ideias são menos intensas do que as impressões e são cópia destas.

4 – Para David Hume, a relação de causa e efeito:
a) Forma-se na mente de um sujeito em consequência de um hábito.
b) Pode ser conhecida a priori
c) Tem fundamentos objectivos para demonstrar a sua existência de facto.
d) Pode ser conhecida a posteriori

5 – Segundo David Hume, a confiança nas inferências indutivas:
a) Tem origem no conhecimento a priori
b) Baseia-se na ideia da regularidade da Natureza
c) Assenta na sua validade lógica.
d) Tem origem na existência de Deus.

6 – Diz-se que a proposição “O lume queima” traduz um conhecimento:
a) A posteriori
b) A priori
c) Formal
d) Inato

GRUPO II

1 – Formule o problema de que David Hume se ocupou.

2 – Os conteúdos da mente podem, segundo Hume, ser divididos em dois tipos. Caracterize-os.

3 – A tese da cópia implica que apenas podemos formar ideias acerca de objectos de que temos experiência? Justifique a sua resposta.

4 – Segundo David Hume, em que se baseiam os raciocínios indutivos?

5 – Explicite as regras que, segundo David Hume, dirigem a associação de ideias.

6 – Explique o princípio do hábito como relação causal.

7 – Por que razão as proposições acerca de Deus não têm sentido?

8 – A ideia de causalidade que a mente forma é apenas um hábito. Isto levanta um problema sério. Que problema é esse?

GRUPO III

Das afirmações que se seguem, indique com um V as que são verdadeiras e com F as que são falsas.

1 – Para os empiristas, a razão é uma tábua rasa, uma folha em branco.
2 – Para os empiristas, a experiência é importante, mas não é o seu critério para o conhecimento.
3 – Para David Hume, os primeiros dados do conhecimento são percepções ou representações.
4 – As ideias em David Hume são produto da memória e da imaginação.
5 – Os empiristas consideram que nem tudo o que está na mente é proveniente dos sentidos.
6 – David Hume considera que há diferença entre impressões e ideias.

GRUPO IV

1 – Será que, segundo Hume, somos irracionais mas podemos não ser? Porquê?

2 – “todas as ideias dependem de impressões prévias”. Concorda? Porquê?

3 – O que dizer de ideias que não são objecto de observação tais como as ideias de elefante cor-de-rosa e de centauro?

4 – Em que sentido a afirmação “O Sol vai nascer amanhã” vai além da experiência?

5 – Por que razão é incorrecto afirmar, apenas com base nos sentidos, que uma dada barra de metal dilatou por causa do calor?

6 – Como explica David Hume a nossa crença de que há no mundo uma conexão necessária entre objectos?

7 – Como mostra David Hume que a nossa percepção de uma árvore e a própria árvore não são a mesma coisa?

Bom trabalho!

NA SENDA DO EMPIRISMO

Apontamento:

O conhecimento e os nossos conceitos procedem da experiência sensível. A mente é entendida como uma tábua rasa onde a experiência escreve. A consciência cognoscente não tira os seus conteúdos da razão, mas da experiência.

Os nossos raciocínios referentes a causas e efeitos não são relações de ideias, mas sim questões de facto. Não podemos descobrir causas e efeitos a “priori”, isto é, mediante o simples uso da razão “Saber” que um objecto pesado cai quando largado é diferente de saber que 2+2=4. Esta proposição obtém-se e confirma-se pelo simples uso da razão. Formulamos outra porque já vimos vários objectos pesados a cair.

As inferências causais estão sempre sujeitas ao erro: perante novos objectos ou circunstâncias não sabemos realmente o que esperar ou o que vai acontecer. Os raciocínios causais não são demonstrativos.

O raciocínio que utilizamos nas questões de facto é o raciocínio causal.

Também as ideias lógico-matemáticas procedem da experiência. A este propósito, sugere-se a distinção de Hume entre dois tipos de conhecimento: o conhecimento das relações de ideias (conhecimento lógico e matemático) e o conhecimento relativo aos factos, justificado através da experiência. Se as relações de ideias não dependem dos factos, tal não significa que as ideias, enquanto tais, não procedam todas da experiência.

Veja se sabe:

GRUPO I


1 – Quais são os elementos básicos que a mente utiliza quando o sujeito realiza uma experiência?

2 – O que distingue basicamente as imagens mentais face ao contacto directo com as coisas?

3 – Estás de acordo com David Hume quando ele diz que as ideias são cópias das impressões correspondestes? Justifica a tua resposta.

4 – O que são relações entre ideias?

5 – O que são conhecimentos de das realidades em si?

6 – O que distingue essencialmente relações do pensar com o dar-se com a situação em si?

7 – O que significa a ideia de causalidade, isto é, o que quer dizer a expressão “conexão necessária entre fenómenos”?

8 – Segundo Hume, podemos comprovar empiricamente a ideia de uma conexão necessária ou casual entre dois fenómenos? Porquê?

9 – Aquilo que a experiência nos permite observar é que dois fenómenos aparecem um a seguir ao outro repetidas vezes. Como é que inferimos – já que não a constactamos – uma relação necessária ou causal entre esses dois fenómenos? Será um conhecimento?

10 – Esclareça a seguinte frase:
“A ideia de causalidade tem uma origem empírica, mas não pode ser objecto de experiência”.

GRUPO II

1. Identifique a afirmação verdadeira:
a) Todos os conteúdos da mente são percepções e estas reduzem-se às ideias.
b) A experiência sensível é a única fonte dos nossos conhecimentos.
c) As ideias são puras e simples criações da nossa razão.

2 – Identifica a afirmação errada:

a) As proposições do tipo 2+3=5 são conhecimento de facto.
b) As proposições que consistem na relação entre ideias são proposições cuja validade não depende da experiência.
c) As proposições factuais são aquelas cujo valor de verdade é aferido pela experiência.

3 – Identifique a afirmação verdadeira:

a) A mente humana trabalha com ideias que o sujeito já tinha logo quando nasceu.
b) “O ouro é amarelo” é uma proposição válida, independentemente de qualquer recurso à observação.
c) Só as proposições que não dependem da confirmação da experiência e respeitam o princípio de não contradição são absolutamente certas.

4 – Identifique as afirmações verdadeiras:

a) A pretensa relação causal nada mais é do que uma conjugação constante de factos, que gera uma ficção mental que catalogamos como necessária.
b) A inferência causal é um raciocínio que vai para além do testemunho imediato dos sentidos.
c) A interferência causal não se baseia na razão, mas sim no costume (hábito).
d) A sucessão temporal constante entre dois fenómenos não é sinónimo de conexão necessária ou causal entre eles.
e) O hábito não é fonte de conhecimento científico, mas sim de crença.
f) A razão é um fenómeno psicológico, com base orgânica, que gera ficções úteis para a nossa sobrevivência.

5 – Segundo David Hume, há ideias:

a) Inatas
b) Que são produtos exclusivos da razão
c) A que não corresponde qualquer impressão sensível

6 – Na perspectiva de David hume, as conclusões dos nossos raciocínios acerca das questões de facto são:

a) Quando muito, prováveis, mas nunca certas.
b) Demonstrativas
c) Necessariamente verdadeiras

7 – O empirismo de David Hume é uma desconfiança porque:

a) Afirma que o conhecimento deriva da experiência e não alcança objectos fora do campo da experiência.
b) Reduz o conhecimento científico do conhecimento matemático.
c) Afirma que o conhecimento deriva da experiência, mas não podemos ter qualquer certeza acerca do comportamento futuro dos objectos.

GRUPO III

1

“[Esta teoria] afirma que todo o conhecimento deriva da experiência, e em particular da experiência dos sentidos”.
Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, Editorial Ariel, S. A., vol. 2

1.1. Indique a teoria a que se refere a afirmação.
R: A afirmação refere-se ao Empirismo.

2 – Prove que, para David Hume, a ideia de causalidade tem apenas um fundamento psicológico.
R: Segundo David Hume, o que nos leva a concluir que o fenómeno A é a causa do fenómeno B é o costume de os vermos associados. A relação de causa-efeito, entendida como conexão necessária entre os fenómenos, baseia-se apenas no hábito de constatarmos que um fenómeno se sucede ao outro. O princípio da causalidade tem assim um fundamento meramente psicológico: o hábito ou o costume.


Bom trabalho!