quarta-feira, 18 de março de 2009

INTERPOLANDO O CONHECIMENTO

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David Hume tem três problemas para resolver:

1 – A origem das ideias – de onde provém o nosso conhecimento?

2 – A associação de ideias – como procede o espírito para raciocinar e constituir os nossos conhecimentos?

3 – A validade das ideias – Como saber se determinada representação corresponde a um verdadeiro conhecimento e não a um pseudoconhecimento sem conteúdo?

Enquanto empirista, a sua resposta a estes três problemas reside na experiência, pois:

1 – é daí que provém todo o conhecimento;
2 – a associação de ideias não se baseia em princípios a priori, como para os racionalistas, mas resulta do hábito, ele próprio fundado na experiência;
3 – a única forma de saber se há um conteúdo objectivo numa ideia é decompô-la em outras tantas experiências sensíveis elementares das quais ela pode ser derivada.

David Hume chamou de percepções aos diversos conteúdos mentais de que temos experiência: sensações, sentimentos, pensamentos, desejos, etc. Em seguida, dividiu as sensações em impressões e ideias.
Hume entendia por impressões as sensações provenientes dos sentidos, mas também os sentimentos e as emoções. As ideias por sua vez, seriam os ingredientes de que são feitos os nossos pensamentos (os traços mentais, as cópias das impressões sensíveis). O prazer que sinto ao reencontrar um velho amigo, por exemplo, é uma impressão; o prazer que imagino que virei a ter quando o reencontrar é uma ideia. E o mesmo acontece com as sensações: o vermelho do tecido que seguro na mão é a causa da impressão de vermelho que neste momento experimento; o verde que me recordo de ter visto ontem e no qual estou agora a pensar é apenas uma ideia.
As ideias e as impressões distinguem-se não pelo conteúdo mas pela intensidade com que se apresentam na mente. As ideias são menos intensas do que as impressões e as impressões mais vividas do que as ideias. Mas, mais propriamente, as impressões e as ideias não se distinguem pelo conteúdo porque as primeiras são uma cópia das segundas. As ideias são um produto da memória ou da imaginação.

A tese de Hume de que as ideias são cópias das impressões tem a apoiá-la o facto de, por exemplo, um cego de nascença ser incapaz de ter uma ideia das cores.

Se a ideia de verde não fosse uma cópia da impressão de verde e, portanto, não tivesse nela a sua origem, seria de esperar que um cego de nascença, apesar de não poder ter a experiência da cor, pudesse formar uma ideia de verde. Infelizmente, não é isso que se verifica. Também não é possível ensinar a uma pessoa que nunca desenvolveu o sentido da audição em que consiste o timbre de um saxofone ou de um acordeão.
Mas a tese de que as ideias são cópias das impressões não significa que só possamos conceber objectos que sejam acessíveis aos sentidos. Podemos perfeitamente conhecer uma montanha de ouro sem existirem montanhas de ouro e, portanto, sem que nos tenha sido possível observar uma. Mas a ideia de uma montanha de ouro pode ser decomposta em elementos, cada um dos quais é cópia de uma impressão particular. Temos impressões relativas a montanhas e impressões relativas a ouro. As duas coisas não estão ligadas na realidade, mas podemos ligá-las pela imaginação.
A tese da cópia aplica-se apenas às ideias simples (como as de montanha de ouro) e não às ideias complexas que formamos com base nelas. Este princípio geral aplica-se a todas as nossas ideias, incluindo as mais abstractas.

O aspecto crucial da teoria das ideias de Hume é, contudo, o facto de ela implicar que todo o conhecimento tem uma origem empírica. Dado que, segundo este princípio, não há ideias que já nasçam com o sujeito (ideias inatas), os limites do conhecimento coincidem com aquilo de que é possível ter experiência.

David Hume dividiu os objectos que podem ser investigados pela razão humana em dois domínios: relações de ideias e questões de facto. A Matemática e a Geometria tratam de relações de ideias; as proposições empíricas em geral constituem exemplos de questões de facto.

Segundo Hume existem leis que dirigem a combinação das ideias:

1 – A semelhança (um retrato faz lembrar o original);

2 – A contiguidade no espaço e no tempo (perante um casal unido, a ideia de um leva a pensar no outro);

3 – A causalidade (perante o efeito, pensa-se na causa; perante a causa, pensa-se no efeito).

Se perguntássemos a David Hume como adquirimos a crença de coisas das quais habitualmente não temos experiência como, por exemplo, ver uma chama e concluirmos que queima, Hume responderia que partimos de uma impressão real – a visão da chama – e supomos uma relação causal – entre a chama e o calor.

Hume começaria por dizer que esta crença não provém da razão, pois a razão só por si não nos pode dizer que as chamas queimam – é concebível que um fogo possa ser frio, e se isto é concebível, é portanto, possível.
Depois diria também que tão-pouco a razão e a experiência juntas podem produzir tal crença. A nossa experiência está confinada a determinadas zonas do espaço e do tempo, e dentro destes limites encontrámos alguma vez o facto das chamas queimarem.
Portanto concluiria, quem origina as nossas crenças é o hábito, o costume.
A experiência repetida entre chama e calor cria uma associação de ideias.

O empirismo afirma, por exemplo, que quando como uma maçã recebo uma série de impressões (é verde, cheira bem, é suculenta, etc.) e que estas impressões simples reúnem-se e formam a impressão complexa – “maçã”.
Passa-se o mesmo com todas as ideias complexas – conceitos – que possuímos. Qualquer ideia tem, portanto, origem numa impressão e deve poder relacionar-se com a impressão correspondente.
Assim, o princípio básico do empirismo é o seguinte: as nossas ideias e opiniões acerca da realidade provém dos sentidos.

Vejamos alguns exemplos:

1 – A ideia de cavalo alado – esta ideia resulta da combinação da ideia de cavalo com a ideia de animais com asas. Há impressões correspondentes às ideias de cavalo e de animal com asas, mas não há nenhuma impressão correspondente à ideia de cavalo alado. Que concluir? Que esta ideia resultou do trabalho combinatório da mente e é falsa por não existir nenhuma experiência sensorial deste animal;

2 – A ideia de Deus – haverá alguma impressão/sensação correspondente? Se não há, então a ideia de deus é uma criação da razão a partir de ideias como “inteligência”, “sabedoria”, “bondade”, etc- Se nunca tivéssemos tido experiências da inteligência, da sabedoria e da bondade não poderíamos moldar estas ideias nem a ideia de Deus, que é uma combinação destas. E porque não tem uma impressão que lhe corresponde, esta ideia é uma criação ilusória da razão.


FICHA DE TRABALHO


GRUPO I

Tenha em conta o que se solicita e assinale para cada resposta a frase correcta:

1 – O conhecimento é:
a) A actividade do sujeito
b) A simples representação do objecto
c) O produto da relação entre um sujeito e um objecto
d) Uma actividade sem intervenção de nenhum sujeito.

2 – Os contra-exemplos de Gettir são relativos à:
a) Ética
b) Estética
c) Lógica
d) Teoria do conhecimento

3 – David Hume distingue ideias de impressões.
a) Porque as ideias nascem com o sujeito e as impressões são adquiridas.
b) Devido ao respectivo conteúdo
c) Porque as impressões são cópias das ideias
d) Porque as ideias são menos intensas do que as impressões e são cópia destas.

4 – Para David Hume, a relação de causa e efeito:
a) Forma-se na mente de um sujeito em consequência de um hábito.
b) Pode ser conhecida a priori
c) Tem fundamentos objectivos para demonstrar a sua existência de facto.
d) Pode ser conhecida a posteriori

5 – Segundo David Hume, a confiança nas inferências indutivas:
a) Tem origem no conhecimento a priori
b) Baseia-se na ideia da regularidade da Natureza
c) Assenta na sua validade lógica.
d) Tem origem na existência de Deus.

6 – Diz-se que a proposição “O lume queima” traduz um conhecimento:
a) A posteriori
b) A priori
c) Formal
d) Inato

GRUPO II

1 – Formule o problema de que David Hume se ocupou.

2 – Os conteúdos da mente podem, segundo Hume, ser divididos em dois tipos. Caracterize-os.

3 – A tese da cópia implica que apenas podemos formar ideias acerca de objectos de que temos experiência? Justifique a sua resposta.

4 – Segundo David Hume, em que se baseiam os raciocínios indutivos?

5 – Explicite as regras que, segundo David Hume, dirigem a associação de ideias.

6 – Explique o princípio do hábito como relação causal.

7 – Por que razão as proposições acerca de Deus não têm sentido?

8 – A ideia de causalidade que a mente forma é apenas um hábito. Isto levanta um problema sério. Que problema é esse?

GRUPO III

Das afirmações que se seguem, indique com um V as que são verdadeiras e com F as que são falsas.

1 – Para os empiristas, a razão é uma tábua rasa, uma folha em branco.
2 – Para os empiristas, a experiência é importante, mas não é o seu critério para o conhecimento.
3 – Para David Hume, os primeiros dados do conhecimento são percepções ou representações.
4 – As ideias em David Hume são produto da memória e da imaginação.
5 – Os empiristas consideram que nem tudo o que está na mente é proveniente dos sentidos.
6 – David Hume considera que há diferença entre impressões e ideias.

GRUPO IV

1 – Será que, segundo Hume, somos irracionais mas podemos não ser? Porquê?

2 – “todas as ideias dependem de impressões prévias”. Concorda? Porquê?

3 – O que dizer de ideias que não são objecto de observação tais como as ideias de elefante cor-de-rosa e de centauro?

4 – Em que sentido a afirmação “O Sol vai nascer amanhã” vai além da experiência?

5 – Por que razão é incorrecto afirmar, apenas com base nos sentidos, que uma dada barra de metal dilatou por causa do calor?

6 – Como explica David Hume a nossa crença de que há no mundo uma conexão necessária entre objectos?

7 – Como mostra David Hume que a nossa percepção de uma árvore e a própria árvore não são a mesma coisa?

Bom trabalho!

NA SENDA DO EMPIRISMO

Apontamento:

O conhecimento e os nossos conceitos procedem da experiência sensível. A mente é entendida como uma tábua rasa onde a experiência escreve. A consciência cognoscente não tira os seus conteúdos da razão, mas da experiência.

Os nossos raciocínios referentes a causas e efeitos não são relações de ideias, mas sim questões de facto. Não podemos descobrir causas e efeitos a “priori”, isto é, mediante o simples uso da razão “Saber” que um objecto pesado cai quando largado é diferente de saber que 2+2=4. Esta proposição obtém-se e confirma-se pelo simples uso da razão. Formulamos outra porque já vimos vários objectos pesados a cair.

As inferências causais estão sempre sujeitas ao erro: perante novos objectos ou circunstâncias não sabemos realmente o que esperar ou o que vai acontecer. Os raciocínios causais não são demonstrativos.

O raciocínio que utilizamos nas questões de facto é o raciocínio causal.

Também as ideias lógico-matemáticas procedem da experiência. A este propósito, sugere-se a distinção de Hume entre dois tipos de conhecimento: o conhecimento das relações de ideias (conhecimento lógico e matemático) e o conhecimento relativo aos factos, justificado através da experiência. Se as relações de ideias não dependem dos factos, tal não significa que as ideias, enquanto tais, não procedam todas da experiência.

Veja se sabe:

GRUPO I


1 – Quais são os elementos básicos que a mente utiliza quando o sujeito realiza uma experiência?

2 – O que distingue basicamente as imagens mentais face ao contacto directo com as coisas?

3 – Estás de acordo com David Hume quando ele diz que as ideias são cópias das impressões correspondestes? Justifica a tua resposta.

4 – O que são relações entre ideias?

5 – O que são conhecimentos de das realidades em si?

6 – O que distingue essencialmente relações do pensar com o dar-se com a situação em si?

7 – O que significa a ideia de causalidade, isto é, o que quer dizer a expressão “conexão necessária entre fenómenos”?

8 – Segundo Hume, podemos comprovar empiricamente a ideia de uma conexão necessária ou casual entre dois fenómenos? Porquê?

9 – Aquilo que a experiência nos permite observar é que dois fenómenos aparecem um a seguir ao outro repetidas vezes. Como é que inferimos – já que não a constactamos – uma relação necessária ou causal entre esses dois fenómenos? Será um conhecimento?

10 – Esclareça a seguinte frase:
“A ideia de causalidade tem uma origem empírica, mas não pode ser objecto de experiência”.

GRUPO II

1. Identifique a afirmação verdadeira:
a) Todos os conteúdos da mente são percepções e estas reduzem-se às ideias.
b) A experiência sensível é a única fonte dos nossos conhecimentos.
c) As ideias são puras e simples criações da nossa razão.

2 – Identifica a afirmação errada:

a) As proposições do tipo 2+3=5 são conhecimento de facto.
b) As proposições que consistem na relação entre ideias são proposições cuja validade não depende da experiência.
c) As proposições factuais são aquelas cujo valor de verdade é aferido pela experiência.

3 – Identifique a afirmação verdadeira:

a) A mente humana trabalha com ideias que o sujeito já tinha logo quando nasceu.
b) “O ouro é amarelo” é uma proposição válida, independentemente de qualquer recurso à observação.
c) Só as proposições que não dependem da confirmação da experiência e respeitam o princípio de não contradição são absolutamente certas.

4 – Identifique as afirmações verdadeiras:

a) A pretensa relação causal nada mais é do que uma conjugação constante de factos, que gera uma ficção mental que catalogamos como necessária.
b) A inferência causal é um raciocínio que vai para além do testemunho imediato dos sentidos.
c) A interferência causal não se baseia na razão, mas sim no costume (hábito).
d) A sucessão temporal constante entre dois fenómenos não é sinónimo de conexão necessária ou causal entre eles.
e) O hábito não é fonte de conhecimento científico, mas sim de crença.
f) A razão é um fenómeno psicológico, com base orgânica, que gera ficções úteis para a nossa sobrevivência.

5 – Segundo David Hume, há ideias:

a) Inatas
b) Que são produtos exclusivos da razão
c) A que não corresponde qualquer impressão sensível

6 – Na perspectiva de David hume, as conclusões dos nossos raciocínios acerca das questões de facto são:

a) Quando muito, prováveis, mas nunca certas.
b) Demonstrativas
c) Necessariamente verdadeiras

7 – O empirismo de David Hume é uma desconfiança porque:

a) Afirma que o conhecimento deriva da experiência e não alcança objectos fora do campo da experiência.
b) Reduz o conhecimento científico do conhecimento matemático.
c) Afirma que o conhecimento deriva da experiência, mas não podemos ter qualquer certeza acerca do comportamento futuro dos objectos.

GRUPO III

1

“[Esta teoria] afirma que todo o conhecimento deriva da experiência, e em particular da experiência dos sentidos”.
Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, Editorial Ariel, S. A., vol. 2

1.1. Indique a teoria a que se refere a afirmação.
R: A afirmação refere-se ao Empirismo.

2 – Prove que, para David Hume, a ideia de causalidade tem apenas um fundamento psicológico.
R: Segundo David Hume, o que nos leva a concluir que o fenómeno A é a causa do fenómeno B é o costume de os vermos associados. A relação de causa-efeito, entendida como conexão necessária entre os fenómenos, baseia-se apenas no hábito de constatarmos que um fenómeno se sucede ao outro. O princípio da causalidade tem assim um fundamento meramente psicológico: o hábito ou o costume.


Bom trabalho!

domingo, 15 de março de 2009

FICHA DE TRABALHO

Leia atentamente o seu teste antes de começar a responder. Deve ter em conta os seguintes critérios, segundo os quais as suas respostas serão avaliadas:
Estruturação dos conteúdos – 40%; Coerência lógica do discurso – 30%; Abordagem reflexiva e crítica das questões – 20% e Correcção da expressão escrita – 10%.

GRUPO I
Texto 1
«O conhecimento realiza-se por assim dizer em três tempos: o sujeito sai de si, está fora de si e regressa finalmente a si.» - Hartmann


1 - Analise a afirmação se Hartmann procurando definir e relacionar os seguintes pares conceptuais: sujeito/ objecto; actividade/ passividade; transcendente/ imanente; cognoscente/ conhecido.

Texto 2

“O objecto não é modificado pelo sujeito, mas sim o sujeito pelo objecto. Apenas no sujeito alguma coisa se transformou pelo acto do conhecimento, no objecto nada de novo foi criado; mas no sujeito nasce a consciência do objecto com o seu conteúdo, a imagem do objecto”.- Hartmann, Les príncipes d’une métaphysique de la connaissance

2 - Esclareça o sentido do texto.

GRUPO II


Texto 1
“Se formularmos o juízo “O Sol aquece a pedra” fazemo-lo fundamentando-nos em determinadas percepções. Vemos como o Sol ilumina a pedra e comprovamos ao tocá-la que a aquece paulatinamente. Para formular este juízo, apoiamo-nos, pois, nos dados dos nossos sentidos – a vista e o tacto – ou, em suma, na experiência.
Mas o nosso juízo apresenta um elemento que não está contido na experiência. O nosso juízo não diz apenas que entre estes dois processos existe uma relação íntima, uma relação causal. A experiência revela-nos que um processo segue o outro. Nós acrescentamos a ideia de que um processo resulta do outro, é causado por outro. O juízo “o Sol aquece a pedra” apresenta deste modo dois elementos, dos quais um procede da experiência e o outro do pensamento. Agora cabe perguntar: qual destes dois factores é decisivo?” - J. Hessen, Teoria do Conhecimento

1 - Caracterize o modelo de conhecimento presente no texto

2 - Do estudo que fez sobre David Hume qual a posição deste face à questão que encerra o texto? Justifique, explicitando a sua posição relativamente à noção de causalidade e os limites que traça para o conhecimento humano.

Bom trabalho

EMPIRISMO VERSUS EXPERIÊNCIA

Apontamento:

O empirismo é a corrente filosófica que, de uma forma geral, considera que a experiência sensível é o fundamento e o limite dos nossos conhecimentos. Para esta corrente filosófica a experiência é a fonte de todo o conhecimento.

Ideias básicas sobre o empirismo:
1. Não existem ideias que nasçam com o sujeito;
2. Nada existe no intelecto que já não exista nos sentidos. O espírito humano está por natureza vazio, é uma tábua rasa, uma folha em branco onde a experiência escreve;
3. Todo o conhecimento depende da experiência, mas também está por ela limitado;
4. As ideias complexas são o resultado de uma combinação de ideias simples, apreendidas através dos sentidos.
5. Embora todos os conteúdos do conhecimento procedam da experiência, contudo há verdades com validade universal que são dela independentes, como a matemática. O fundamento da sua validade reside no pensamento e não na experiência.

Dito de outra maneira, o Empirismo é a corrente filosófica que considera a experiência sensível externa (as sensações) e interna (os nossos sentimentos tal como são vividos) como fonte única, directa ou indirecta, do conhecimento.
O empirismo afirma que a razão, com os seus princípios, os seus procedimentos e as suas ideias, é adquirida por nós através da experiência.

Assim:

NO EMPIRISMO
Os nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com as sensações. Os objectos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e assim vemos cores, sentimos os sabores e os odores, ouvimos os sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio, etc.

As sensações reúnem-se e formam uma percepção; ou seja, percebemos uma única coisa ou um único objecto que nos chegou por meio de várias e diferentes sensações. Assim, vejo uma cor vermelha e uma forma arredondada, aspiro um perfume adocicado, sinto a maciez e digo: "Percebo uma rosa". A "rosa" é o resultado da reunião de várias sensações diferentes num único objecto de percepção.

As percepções, por sua vez, combinam-se ou associam-se.

Princípios de associação de ideias:

1 - por semelhança - um rosto desenhado remete-nos para o rosto original;

2 - por contiguidade no espaço e no tempo - a lembrança de um comboio leva a pensar na estação, nos passageiros;

3 - por causalidade (causa e efeito) - a água fria posta ao lume (causa) faz ferver (efeito) que se lhe seguirá.

É na relação de causa e efeito que se baseiam os nossos raciocínios acerca dos factos. O nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões actuais e às recordações de impressões passadas. Uma vez que não dispomos de impressões relativas o que acontecerá no futuro, também não possuímos o conhecimento dos factos futuros.

A causa da associação das percepções é a repetição. Ou seja, pelo facto de algumas sensações se repetirem por semelhança, ou por se repetirem no mesmo espaço ou próximas umas das outras, ou, enfim, de tanto se repetirem sucessivamente no tempo, criamos o hábito de associá-las. Essas associações são as ideias.

As ideias, trazidas pela experiência, isto é, pela sensação, pela percepção e pelo hábito, são levadas à memória e, de lá, a razão apanha-as para formar os pensamentos.
A experiência escreve e grava no nosso espírito as ideias, e a razão irá associá-las, combiná-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos. Por isso, David Hume (filósofo empirista) diz que a razão é o hábito de associar ideias, sejam elas por semelhança, ou sejam por diferença.

O exemplo mais importante (por causa das consequências futuras) oferecido por David Hume para mostrar como formamos hábitos racionais é o da origem do princípio da causalidade (razão suficiente).
A experiência mostra-me, todos os dias, que, se eu puser um líquido num recipiente e levar ao fogo, esse líquido ferverá, saindo do recipiente sob a forma de vapor. Se o recipiente estiver totalmente fechado e eu lhe retirar a, vou receber um bafo de vapor, como se o recipiente tivesse ficado pequeno para conter o líquido.
A experiência também me mostra, que em todo o tempo, que se eu puser um objecto sólido (um pedaço de vela, um pedaço de ferro) no calor do fogo, não só ele se derreterá, mas também passará a ocupar um espaço muito maior no interior do recipiente.
A experiência também repete constantemente para mim a possibilidade que tenho de retirar um objecto preso dentro de um outro, se eu aquecer este último, pois, aquecido, ele solta o que estava preso no seu interior, parecendo alargar-se e aumentar de tamanho.

Experiências desse tipo, à medida que vão se repetindo sempre da mesma maneira, vão criando em mim o hábito de associar o calor com certos factos.

Adquiro o hábito de perceber o calor e, em seguida, um facto igual ou semelhante a outros que já percebi inúmeras vezes. E isso leva-me a dizer: "O calor é a causa desses factos".

Como os factos são de aumento do volume ou da dimensão dos corpos submetidos ao calor, acabo por concluir que: "O calor é a causa da dilatação dos corpos" e também "A dilatação dos corpos é o efeito do calor".

David Hume, diz que assim nascem as ciências. As ciências são, portanto, hábito de associar ideias, em consequência das repetições da experiência.
Ao mostrar como se forma o princípio da causalidade, David Hume não está dizendo apenas que as ideias da razão se originam da experiência, mas afirma também que os próprios princípios da racionalidade são derivados da experiência.
A razão pretende, através dos seus princípios, dos seus procedimentos e das suas ideias, alcançar a realidade em nos seus aspectos universais e necessários.

A razão retende conhecer a realidade tal como ela é em si mesma, considerando que o que conhece vale como verdade para todos os tempos e lugares (universalidade) e indica como as coisas são e como não poderiam, de modo algum, ser de outra maneira (necessidade).

David Hume diz que é impossível tanto a universalidade quanto a necessidade pretendidas pela razão. Assim, o universal é apenas um nome ou uma palavra geral que usamos para nos referirmos à repetição de semelhanças percebidas e associadas. E o necessário é apenas o nome ou uma palavra geral que usamos para nos referirmos à repetição das percepções sucessivas no tempo.

O universal, o necessário, a causalidade são meros hábitos psíquicos.

DAVID HUME
O empirismo de David Hume:
Encontramos em David Hume uma profundidade da investigação sobre a origem, a possibilidade e os limites do conhecimento.
1 - Impressões e ideias são o conteúdo do conhecimento.

Para David Hume, todo o conhecimento começa com a experiência. Os dados ou impressões sensíveis são as unidades básicas do conhecimento.
O filósofo escocês divide o conteúdo do conhecimento em duas espécies de estados de consciência ou percepções.
Impressões - são os actos originários do nosso conhecimento e correspondem aos dados da experiência presente ou actual (as sensações são um exemplo de impressões, tal como o serão as paixões e as emoções).
Ideias - são as representações ou imagens debilitadas, enfraquecidas, das impressões no pensamento. São como que marcas deixadas pelas impressões, uma vez estas desaparecidas.

Exemplo: tenho a percepção deste automóvel. Recebo impressões como a cor, a forma, o ruído do motor, etc. Fecho os olhos e na minha mente continua a imagem do automóvel, ou seja, continuo a percepcionar o mesmo objecto, mas a impressão é menos viva. A esta impressão menos viva, cópia enfraquecida da impressão original, dá David Hume de ideia. A diferença entre impressões e ideias é simplesmente de grau e não de natureza. As impressões propriamente ditas são todas as nossas sensações. As ideias são imagens enfraquecidas dessas impressões.

A ideia é a impressão menos viva, a cópia enfraquecida da impressão original.
Percepções Impressões - (imagens ou sentimentos que derivam imediatamente da realidade. São percepções vivas e fortes) Simples - (a percepção de, por exemplo, um automóvel vermelho) Complexas - (a visão global de um povoado a partir de um ponto alto)
Ideias - (cópias ou imagens débeis das impressões) Simples - (a recordação do automóvel vermelho)
Complexas - (a recordação do povoado)

Actividade:
1 - Quais são os elementos básicos que a mente utiliza em todas as suas operações?
2 - O que distingue basicamente ideias e impressões?
3 - O que se pode dizer quanto à existência das ideias inatas?
4 - Estás de acordo com David Hume quando ele diz que as ideias são cópias das impressões correspondentes?

2 - Os tipos de conhecimento
Os modos ou tipos de conhecimento. Hume refere dois tipos:
a) Conhecimento de Ideias e b) Conhecimento de factos
Conhecimento de Ideias - É a relação entre Ideias. consiste em analisar o significado dos elementos de uma proposição, em estabelecer relações entre as ideias que ela contém. As "relações entre as ideias" são proposições cuja verdade pode ser conhecida pela simples inspecção lógica do seu conteúdo.
Exemplo:
- "O quadrado tem quatro lados" - é um juízo verdadeiro, bastando analisar o significado de "quadrado".
- Embora todas as ideias tenham o seu fundamento nas impressões, podemos conhecer sem necessidade de recorrer às impressões, isto é, ao confronto com a experiência. É o caso dos conhecimentos da lógica e da matemática.
Hume diz que tais conhecimentos são tautológicos, ou seja, as proposições lógicas e matemáticas não dão novas informações porque o predicado diz, implicitamente, o mesmo que o sujeito.
Conhecimentos de facto - Implica um confronto das proposições (do que dizemos) com a experiência. Os conhecimentos de facto são proposições cujo valor de verdade tem de ser testado pela experiência, tem de ser "inspeccionado" o mundo dos factos para verificar se elas são verdadeiras ou falsas.
Exemplo:
- "Este martelo é pesado" - é um juízo cujo valor de verdade não pode ser decidido pela simples inspecção a priori do significado dos termos, isto é, temos de a confrontar com uma verificação experimental elementar, ou seja, a sua verdade ou falsidade só pode ser determinada a posteriori.

Actividade:
1 - O que são relações entre ideias?
2 - O que são conhecimentos de facto?
3 - O que distingue essencialmente relações de ideias e conhecimento de facto?

3 - O problema da causalidade
Todas as nossas ideias derivam de impressões sensíveis. A toda e qualquer ideia tem de corresponder uma impressão porque as ideias são imagens das impressões. Do que não há impressão sensível não há conhecimento.
Embora tenha consciência da importância que o princípio de causalidade teve na história do pensamento filosófico e científico. David Hume vai submetê-lo a uma análise crítica rigorosa, baseando-se na teoria do conhecimento anteriormente exposta.
Análise de um exemplo (que D. Hume deu):

1 - Observação de um facto - duas bolas de bilhar que chocam.
Aparece uma Impressão sensível (A) que o próprio Hume descreve assim: "Vemos uma bola de bilhar imóvel em cima da mesa e outra bola que rapidamente se move em direcção a ela".
De seguida surge outra impressão (B): "As duas bolas chocam e a que antes estava quieta adquire, imediatamente, movimento."
Se continuarmos a jogar, veremos que, batendo uma bola noutra imóvel, esta mover-se-á: verificamos uma conjunção constante entre (A) e (B), que (B) sucede a (A).

2 - Análise do fenómeno
Como consequência da conjunção ou sucessão regular de (A) e (B) nasce na nossa mente a ideia de relação causal ou conexão necessária. Dizemos então: Sempre que se dá (A) acontece (B). Assim, pensamos que acontecendo (A) não poderá deixar de acontecer (B).
Ora, dizemos que acontecendo (A) sempre acontecerá (A) estamos a falar de um facto futuro, que ainda não aconteceu. É aqui que Hume diz que ultrapassamos o que a experiência - a única fonte de validade dos conhecimentos de facto - nos permite. Com efeito, para Hume o conhecimento dos factos reduz-se às impressões actuais e passadas. Não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiência do que ainda não aconteceu.
A ideia de relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos ("sempre foi assim, sempre assim será"), é uma ideia da qual não temos qualquer impressão sensível.
Como o critério de verdade de um conhecimento factual é que a uma ideia corresponda uma impressão sensível, não temos legitimidade para falar de uma relação causal entre os dados na nossa experiência.

3 - Conclusões
Segundo Hume, nós inferimos uma relação necessária entre causa e efeito pelo facto de nos termos habituado a constatar uma relação constante entre factos semelhantes ou sucessivos.
Contraímos assim o hábito de, dado um facto, esperarmos outro. É apenas o hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente presente na experiência em direcção ao futuro.
A razão humana sente-se impelida a criar a ficção de uma conexão necessária ou causal por fora do hábito e do costume. A constante relação de contiguidade espacial e de prioridade temporal entre os fenómenos A e B levam a razão a inventar uma conexão que ela julga necessária, mas da qual nunca teve experiência.
E, contudo, a ficção de uma relação causal é útil não só para a nossa vida quotidiana - seria angustiante viver sem crença no princípio de causalidade - como é também nela que se baseiam as ciências naturais ou experimentais. A crença na ideia de causalidade tem um fundamento não racional. Tal ideia não deriva da razão, mas de factores psicológicos - a vontade de que o futuro seja previsível e, logo, controlável.

O princípio da causalidade, considerado um princípio racional e objectivo, nada mais é do que uma crença subjectiva, o produto de um hábito, o desejo de transformação de uma expectativa em realidade.

PONTO DE VISTA DE DAVID HUME SOBRE DEUS

No que se refere à existência de Deus, reconhecendo que o que concebemos como existente também o podemos conceber como não existente, Hume conclui que não existe um ser cuja existência esteja à partida demonstrada. Como tal, o argumento ontológico é desde logo excluído. Também as provas da existência de Deus baseadas no princípio da causalidade são criticadas por Hume, uma vez que partem das impressões par chegar a Deus; mas Deus não é objecto de qualquer impressão.

Nota:
Indução - passagem do particular para o geral (universal) Dedução - passagem do geral para o particular Todos os materiais do pensamento são extraídos dos nossos pensamentos, externos ou internos. A consciência cognoscente do ponto de vista do empirista tira os seus conteúdos da experiência. No Empirismo o conhecimento é uma aquisição da experiência. O conhecimento é adquirido à medida que a realidade exterior vai "escrevendo" as suas impressões.

FICHA DE TRABALHO SOBRE O EMPIRISMO

GRUPO I
Tenha em conta os seguintes enunciados e seleccione os que são verdadeiros (V) e os que são falsos (F):
1 - No empirismo, o sujeito submete-se aos dados dos sentidos; no racionalismo, às ideias inatas.
R: V
2 - Os empiristas consideram que nem tudo o que está na mente é proveniente dos sentidos.
R: F
3 - David Hume considera que há diferença entre impressões e ideias.
R: V
4 - David Hume é um dos principais representantes do empirismo.
R: V
5 - As ideias são mais intensas do que as impressões.
R: F
6 - Podemos saber o que ocorrerá no futuro a partir da experiência.
R: F
7 - A indução não tem justificação racional.
R: V
8 - O empirismo afirma que todo o conhecimento do mundo é a posteiori.
R: V
9 - Para David Hume, é ao pensamento que cabe conhecer as proposições acerca do mundo evidentes em si mesmas.
R: F

GRUPO II

1 - O que significa a ideia de causalidade, isto é, o que quer dizer a expressão "conexão necessária entre dois fenómenos"?
2 - Segundo Hume, podemos comprovar empiricamente a ideia de uma conexão necessária ou causal entre dois fenómenos? Porquê?
3 - Aquilo que a experiência nos permite observar é que dois fenómenos aparecem um a seguir ao outro repetidas vezes. Como é que inferimos - já que não a constatamos - uma relação necessária ou causal entre esses dois fenómenos? Será um conhecimento?
4 - Esclareça a seguinte frase: "A ideia de causalidade tem uma origem empírica, mas não pode ser objecto de experiência".
5 - A que recorrem os empiristas para justificar a sua posição?
6 - De onde tira o empirismo os conteúdos da razão?
7 - Como se situa Davi Hume face ao problema da origem do conhecimento?
8 - Refira as ideias básicas da tese empirista.
9 - Caracterize a importância do "habito" ou do "costume" em David Hume par explicação do conhecimento.

GRUPO III

1 - Indique quais as características que definem , no empirismo de Hume a relação de causa e efeito.
Bom trabalho e boa sorte!