quarta-feira, 18 de março de 2009

INTERPOLANDO O CONHECIMENTO

****** ++++++ *****
David Hume tem três problemas para resolver:

1 – A origem das ideias – de onde provém o nosso conhecimento?

2 – A associação de ideias – como procede o espírito para raciocinar e constituir os nossos conhecimentos?

3 – A validade das ideias – Como saber se determinada representação corresponde a um verdadeiro conhecimento e não a um pseudoconhecimento sem conteúdo?

Enquanto empirista, a sua resposta a estes três problemas reside na experiência, pois:

1 – é daí que provém todo o conhecimento;
2 – a associação de ideias não se baseia em princípios a priori, como para os racionalistas, mas resulta do hábito, ele próprio fundado na experiência;
3 – a única forma de saber se há um conteúdo objectivo numa ideia é decompô-la em outras tantas experiências sensíveis elementares das quais ela pode ser derivada.

David Hume chamou de percepções aos diversos conteúdos mentais de que temos experiência: sensações, sentimentos, pensamentos, desejos, etc. Em seguida, dividiu as sensações em impressões e ideias.
Hume entendia por impressões as sensações provenientes dos sentidos, mas também os sentimentos e as emoções. As ideias por sua vez, seriam os ingredientes de que são feitos os nossos pensamentos (os traços mentais, as cópias das impressões sensíveis). O prazer que sinto ao reencontrar um velho amigo, por exemplo, é uma impressão; o prazer que imagino que virei a ter quando o reencontrar é uma ideia. E o mesmo acontece com as sensações: o vermelho do tecido que seguro na mão é a causa da impressão de vermelho que neste momento experimento; o verde que me recordo de ter visto ontem e no qual estou agora a pensar é apenas uma ideia.
As ideias e as impressões distinguem-se não pelo conteúdo mas pela intensidade com que se apresentam na mente. As ideias são menos intensas do que as impressões e as impressões mais vividas do que as ideias. Mas, mais propriamente, as impressões e as ideias não se distinguem pelo conteúdo porque as primeiras são uma cópia das segundas. As ideias são um produto da memória ou da imaginação.

A tese de Hume de que as ideias são cópias das impressões tem a apoiá-la o facto de, por exemplo, um cego de nascença ser incapaz de ter uma ideia das cores.

Se a ideia de verde não fosse uma cópia da impressão de verde e, portanto, não tivesse nela a sua origem, seria de esperar que um cego de nascença, apesar de não poder ter a experiência da cor, pudesse formar uma ideia de verde. Infelizmente, não é isso que se verifica. Também não é possível ensinar a uma pessoa que nunca desenvolveu o sentido da audição em que consiste o timbre de um saxofone ou de um acordeão.
Mas a tese de que as ideias são cópias das impressões não significa que só possamos conceber objectos que sejam acessíveis aos sentidos. Podemos perfeitamente conhecer uma montanha de ouro sem existirem montanhas de ouro e, portanto, sem que nos tenha sido possível observar uma. Mas a ideia de uma montanha de ouro pode ser decomposta em elementos, cada um dos quais é cópia de uma impressão particular. Temos impressões relativas a montanhas e impressões relativas a ouro. As duas coisas não estão ligadas na realidade, mas podemos ligá-las pela imaginação.
A tese da cópia aplica-se apenas às ideias simples (como as de montanha de ouro) e não às ideias complexas que formamos com base nelas. Este princípio geral aplica-se a todas as nossas ideias, incluindo as mais abstractas.

O aspecto crucial da teoria das ideias de Hume é, contudo, o facto de ela implicar que todo o conhecimento tem uma origem empírica. Dado que, segundo este princípio, não há ideias que já nasçam com o sujeito (ideias inatas), os limites do conhecimento coincidem com aquilo de que é possível ter experiência.

David Hume dividiu os objectos que podem ser investigados pela razão humana em dois domínios: relações de ideias e questões de facto. A Matemática e a Geometria tratam de relações de ideias; as proposições empíricas em geral constituem exemplos de questões de facto.

Segundo Hume existem leis que dirigem a combinação das ideias:

1 – A semelhança (um retrato faz lembrar o original);

2 – A contiguidade no espaço e no tempo (perante um casal unido, a ideia de um leva a pensar no outro);

3 – A causalidade (perante o efeito, pensa-se na causa; perante a causa, pensa-se no efeito).

Se perguntássemos a David Hume como adquirimos a crença de coisas das quais habitualmente não temos experiência como, por exemplo, ver uma chama e concluirmos que queima, Hume responderia que partimos de uma impressão real – a visão da chama – e supomos uma relação causal – entre a chama e o calor.

Hume começaria por dizer que esta crença não provém da razão, pois a razão só por si não nos pode dizer que as chamas queimam – é concebível que um fogo possa ser frio, e se isto é concebível, é portanto, possível.
Depois diria também que tão-pouco a razão e a experiência juntas podem produzir tal crença. A nossa experiência está confinada a determinadas zonas do espaço e do tempo, e dentro destes limites encontrámos alguma vez o facto das chamas queimarem.
Portanto concluiria, quem origina as nossas crenças é o hábito, o costume.
A experiência repetida entre chama e calor cria uma associação de ideias.

O empirismo afirma, por exemplo, que quando como uma maçã recebo uma série de impressões (é verde, cheira bem, é suculenta, etc.) e que estas impressões simples reúnem-se e formam a impressão complexa – “maçã”.
Passa-se o mesmo com todas as ideias complexas – conceitos – que possuímos. Qualquer ideia tem, portanto, origem numa impressão e deve poder relacionar-se com a impressão correspondente.
Assim, o princípio básico do empirismo é o seguinte: as nossas ideias e opiniões acerca da realidade provém dos sentidos.

Vejamos alguns exemplos:

1 – A ideia de cavalo alado – esta ideia resulta da combinação da ideia de cavalo com a ideia de animais com asas. Há impressões correspondentes às ideias de cavalo e de animal com asas, mas não há nenhuma impressão correspondente à ideia de cavalo alado. Que concluir? Que esta ideia resultou do trabalho combinatório da mente e é falsa por não existir nenhuma experiência sensorial deste animal;

2 – A ideia de Deus – haverá alguma impressão/sensação correspondente? Se não há, então a ideia de deus é uma criação da razão a partir de ideias como “inteligência”, “sabedoria”, “bondade”, etc- Se nunca tivéssemos tido experiências da inteligência, da sabedoria e da bondade não poderíamos moldar estas ideias nem a ideia de Deus, que é uma combinação destas. E porque não tem uma impressão que lhe corresponde, esta ideia é uma criação ilusória da razão.


FICHA DE TRABALHO


GRUPO I

Tenha em conta o que se solicita e assinale para cada resposta a frase correcta:

1 – O conhecimento é:
a) A actividade do sujeito
b) A simples representação do objecto
c) O produto da relação entre um sujeito e um objecto
d) Uma actividade sem intervenção de nenhum sujeito.

2 – Os contra-exemplos de Gettir são relativos à:
a) Ética
b) Estética
c) Lógica
d) Teoria do conhecimento

3 – David Hume distingue ideias de impressões.
a) Porque as ideias nascem com o sujeito e as impressões são adquiridas.
b) Devido ao respectivo conteúdo
c) Porque as impressões são cópias das ideias
d) Porque as ideias são menos intensas do que as impressões e são cópia destas.

4 – Para David Hume, a relação de causa e efeito:
a) Forma-se na mente de um sujeito em consequência de um hábito.
b) Pode ser conhecida a priori
c) Tem fundamentos objectivos para demonstrar a sua existência de facto.
d) Pode ser conhecida a posteriori

5 – Segundo David Hume, a confiança nas inferências indutivas:
a) Tem origem no conhecimento a priori
b) Baseia-se na ideia da regularidade da Natureza
c) Assenta na sua validade lógica.
d) Tem origem na existência de Deus.

6 – Diz-se que a proposição “O lume queima” traduz um conhecimento:
a) A posteriori
b) A priori
c) Formal
d) Inato

GRUPO II

1 – Formule o problema de que David Hume se ocupou.

2 – Os conteúdos da mente podem, segundo Hume, ser divididos em dois tipos. Caracterize-os.

3 – A tese da cópia implica que apenas podemos formar ideias acerca de objectos de que temos experiência? Justifique a sua resposta.

4 – Segundo David Hume, em que se baseiam os raciocínios indutivos?

5 – Explicite as regras que, segundo David Hume, dirigem a associação de ideias.

6 – Explique o princípio do hábito como relação causal.

7 – Por que razão as proposições acerca de Deus não têm sentido?

8 – A ideia de causalidade que a mente forma é apenas um hábito. Isto levanta um problema sério. Que problema é esse?

GRUPO III

Das afirmações que se seguem, indique com um V as que são verdadeiras e com F as que são falsas.

1 – Para os empiristas, a razão é uma tábua rasa, uma folha em branco.
2 – Para os empiristas, a experiência é importante, mas não é o seu critério para o conhecimento.
3 – Para David Hume, os primeiros dados do conhecimento são percepções ou representações.
4 – As ideias em David Hume são produto da memória e da imaginação.
5 – Os empiristas consideram que nem tudo o que está na mente é proveniente dos sentidos.
6 – David Hume considera que há diferença entre impressões e ideias.

GRUPO IV

1 – Será que, segundo Hume, somos irracionais mas podemos não ser? Porquê?

2 – “todas as ideias dependem de impressões prévias”. Concorda? Porquê?

3 – O que dizer de ideias que não são objecto de observação tais como as ideias de elefante cor-de-rosa e de centauro?

4 – Em que sentido a afirmação “O Sol vai nascer amanhã” vai além da experiência?

5 – Por que razão é incorrecto afirmar, apenas com base nos sentidos, que uma dada barra de metal dilatou por causa do calor?

6 – Como explica David Hume a nossa crença de que há no mundo uma conexão necessária entre objectos?

7 – Como mostra David Hume que a nossa percepção de uma árvore e a própria árvore não são a mesma coisa?

Bom trabalho!

1 comentário: