domingo, 15 de março de 2009

EMPIRISMO VERSUS EXPERIÊNCIA

Apontamento:

O empirismo é a corrente filosófica que, de uma forma geral, considera que a experiência sensível é o fundamento e o limite dos nossos conhecimentos. Para esta corrente filosófica a experiência é a fonte de todo o conhecimento.

Ideias básicas sobre o empirismo:
1. Não existem ideias que nasçam com o sujeito;
2. Nada existe no intelecto que já não exista nos sentidos. O espírito humano está por natureza vazio, é uma tábua rasa, uma folha em branco onde a experiência escreve;
3. Todo o conhecimento depende da experiência, mas também está por ela limitado;
4. As ideias complexas são o resultado de uma combinação de ideias simples, apreendidas através dos sentidos.
5. Embora todos os conteúdos do conhecimento procedam da experiência, contudo há verdades com validade universal que são dela independentes, como a matemática. O fundamento da sua validade reside no pensamento e não na experiência.

Dito de outra maneira, o Empirismo é a corrente filosófica que considera a experiência sensível externa (as sensações) e interna (os nossos sentimentos tal como são vividos) como fonte única, directa ou indirecta, do conhecimento.
O empirismo afirma que a razão, com os seus princípios, os seus procedimentos e as suas ideias, é adquirida por nós através da experiência.

Assim:

NO EMPIRISMO
Os nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com as sensações. Os objectos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e assim vemos cores, sentimos os sabores e os odores, ouvimos os sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio, etc.

As sensações reúnem-se e formam uma percepção; ou seja, percebemos uma única coisa ou um único objecto que nos chegou por meio de várias e diferentes sensações. Assim, vejo uma cor vermelha e uma forma arredondada, aspiro um perfume adocicado, sinto a maciez e digo: "Percebo uma rosa". A "rosa" é o resultado da reunião de várias sensações diferentes num único objecto de percepção.

As percepções, por sua vez, combinam-se ou associam-se.

Princípios de associação de ideias:

1 - por semelhança - um rosto desenhado remete-nos para o rosto original;

2 - por contiguidade no espaço e no tempo - a lembrança de um comboio leva a pensar na estação, nos passageiros;

3 - por causalidade (causa e efeito) - a água fria posta ao lume (causa) faz ferver (efeito) que se lhe seguirá.

É na relação de causa e efeito que se baseiam os nossos raciocínios acerca dos factos. O nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões actuais e às recordações de impressões passadas. Uma vez que não dispomos de impressões relativas o que acontecerá no futuro, também não possuímos o conhecimento dos factos futuros.

A causa da associação das percepções é a repetição. Ou seja, pelo facto de algumas sensações se repetirem por semelhança, ou por se repetirem no mesmo espaço ou próximas umas das outras, ou, enfim, de tanto se repetirem sucessivamente no tempo, criamos o hábito de associá-las. Essas associações são as ideias.

As ideias, trazidas pela experiência, isto é, pela sensação, pela percepção e pelo hábito, são levadas à memória e, de lá, a razão apanha-as para formar os pensamentos.
A experiência escreve e grava no nosso espírito as ideias, e a razão irá associá-las, combiná-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos. Por isso, David Hume (filósofo empirista) diz que a razão é o hábito de associar ideias, sejam elas por semelhança, ou sejam por diferença.

O exemplo mais importante (por causa das consequências futuras) oferecido por David Hume para mostrar como formamos hábitos racionais é o da origem do princípio da causalidade (razão suficiente).
A experiência mostra-me, todos os dias, que, se eu puser um líquido num recipiente e levar ao fogo, esse líquido ferverá, saindo do recipiente sob a forma de vapor. Se o recipiente estiver totalmente fechado e eu lhe retirar a, vou receber um bafo de vapor, como se o recipiente tivesse ficado pequeno para conter o líquido.
A experiência também me mostra, que em todo o tempo, que se eu puser um objecto sólido (um pedaço de vela, um pedaço de ferro) no calor do fogo, não só ele se derreterá, mas também passará a ocupar um espaço muito maior no interior do recipiente.
A experiência também repete constantemente para mim a possibilidade que tenho de retirar um objecto preso dentro de um outro, se eu aquecer este último, pois, aquecido, ele solta o que estava preso no seu interior, parecendo alargar-se e aumentar de tamanho.

Experiências desse tipo, à medida que vão se repetindo sempre da mesma maneira, vão criando em mim o hábito de associar o calor com certos factos.

Adquiro o hábito de perceber o calor e, em seguida, um facto igual ou semelhante a outros que já percebi inúmeras vezes. E isso leva-me a dizer: "O calor é a causa desses factos".

Como os factos são de aumento do volume ou da dimensão dos corpos submetidos ao calor, acabo por concluir que: "O calor é a causa da dilatação dos corpos" e também "A dilatação dos corpos é o efeito do calor".

David Hume, diz que assim nascem as ciências. As ciências são, portanto, hábito de associar ideias, em consequência das repetições da experiência.
Ao mostrar como se forma o princípio da causalidade, David Hume não está dizendo apenas que as ideias da razão se originam da experiência, mas afirma também que os próprios princípios da racionalidade são derivados da experiência.
A razão pretende, através dos seus princípios, dos seus procedimentos e das suas ideias, alcançar a realidade em nos seus aspectos universais e necessários.

A razão retende conhecer a realidade tal como ela é em si mesma, considerando que o que conhece vale como verdade para todos os tempos e lugares (universalidade) e indica como as coisas são e como não poderiam, de modo algum, ser de outra maneira (necessidade).

David Hume diz que é impossível tanto a universalidade quanto a necessidade pretendidas pela razão. Assim, o universal é apenas um nome ou uma palavra geral que usamos para nos referirmos à repetição de semelhanças percebidas e associadas. E o necessário é apenas o nome ou uma palavra geral que usamos para nos referirmos à repetição das percepções sucessivas no tempo.

O universal, o necessário, a causalidade são meros hábitos psíquicos.

DAVID HUME
O empirismo de David Hume:
Encontramos em David Hume uma profundidade da investigação sobre a origem, a possibilidade e os limites do conhecimento.
1 - Impressões e ideias são o conteúdo do conhecimento.

Para David Hume, todo o conhecimento começa com a experiência. Os dados ou impressões sensíveis são as unidades básicas do conhecimento.
O filósofo escocês divide o conteúdo do conhecimento em duas espécies de estados de consciência ou percepções.
Impressões - são os actos originários do nosso conhecimento e correspondem aos dados da experiência presente ou actual (as sensações são um exemplo de impressões, tal como o serão as paixões e as emoções).
Ideias - são as representações ou imagens debilitadas, enfraquecidas, das impressões no pensamento. São como que marcas deixadas pelas impressões, uma vez estas desaparecidas.

Exemplo: tenho a percepção deste automóvel. Recebo impressões como a cor, a forma, o ruído do motor, etc. Fecho os olhos e na minha mente continua a imagem do automóvel, ou seja, continuo a percepcionar o mesmo objecto, mas a impressão é menos viva. A esta impressão menos viva, cópia enfraquecida da impressão original, dá David Hume de ideia. A diferença entre impressões e ideias é simplesmente de grau e não de natureza. As impressões propriamente ditas são todas as nossas sensações. As ideias são imagens enfraquecidas dessas impressões.

A ideia é a impressão menos viva, a cópia enfraquecida da impressão original.
Percepções Impressões - (imagens ou sentimentos que derivam imediatamente da realidade. São percepções vivas e fortes) Simples - (a percepção de, por exemplo, um automóvel vermelho) Complexas - (a visão global de um povoado a partir de um ponto alto)
Ideias - (cópias ou imagens débeis das impressões) Simples - (a recordação do automóvel vermelho)
Complexas - (a recordação do povoado)

Actividade:
1 - Quais são os elementos básicos que a mente utiliza em todas as suas operações?
2 - O que distingue basicamente ideias e impressões?
3 - O que se pode dizer quanto à existência das ideias inatas?
4 - Estás de acordo com David Hume quando ele diz que as ideias são cópias das impressões correspondentes?

2 - Os tipos de conhecimento
Os modos ou tipos de conhecimento. Hume refere dois tipos:
a) Conhecimento de Ideias e b) Conhecimento de factos
Conhecimento de Ideias - É a relação entre Ideias. consiste em analisar o significado dos elementos de uma proposição, em estabelecer relações entre as ideias que ela contém. As "relações entre as ideias" são proposições cuja verdade pode ser conhecida pela simples inspecção lógica do seu conteúdo.
Exemplo:
- "O quadrado tem quatro lados" - é um juízo verdadeiro, bastando analisar o significado de "quadrado".
- Embora todas as ideias tenham o seu fundamento nas impressões, podemos conhecer sem necessidade de recorrer às impressões, isto é, ao confronto com a experiência. É o caso dos conhecimentos da lógica e da matemática.
Hume diz que tais conhecimentos são tautológicos, ou seja, as proposições lógicas e matemáticas não dão novas informações porque o predicado diz, implicitamente, o mesmo que o sujeito.
Conhecimentos de facto - Implica um confronto das proposições (do que dizemos) com a experiência. Os conhecimentos de facto são proposições cujo valor de verdade tem de ser testado pela experiência, tem de ser "inspeccionado" o mundo dos factos para verificar se elas são verdadeiras ou falsas.
Exemplo:
- "Este martelo é pesado" - é um juízo cujo valor de verdade não pode ser decidido pela simples inspecção a priori do significado dos termos, isto é, temos de a confrontar com uma verificação experimental elementar, ou seja, a sua verdade ou falsidade só pode ser determinada a posteriori.

Actividade:
1 - O que são relações entre ideias?
2 - O que são conhecimentos de facto?
3 - O que distingue essencialmente relações de ideias e conhecimento de facto?

3 - O problema da causalidade
Todas as nossas ideias derivam de impressões sensíveis. A toda e qualquer ideia tem de corresponder uma impressão porque as ideias são imagens das impressões. Do que não há impressão sensível não há conhecimento.
Embora tenha consciência da importância que o princípio de causalidade teve na história do pensamento filosófico e científico. David Hume vai submetê-lo a uma análise crítica rigorosa, baseando-se na teoria do conhecimento anteriormente exposta.
Análise de um exemplo (que D. Hume deu):

1 - Observação de um facto - duas bolas de bilhar que chocam.
Aparece uma Impressão sensível (A) que o próprio Hume descreve assim: "Vemos uma bola de bilhar imóvel em cima da mesa e outra bola que rapidamente se move em direcção a ela".
De seguida surge outra impressão (B): "As duas bolas chocam e a que antes estava quieta adquire, imediatamente, movimento."
Se continuarmos a jogar, veremos que, batendo uma bola noutra imóvel, esta mover-se-á: verificamos uma conjunção constante entre (A) e (B), que (B) sucede a (A).

2 - Análise do fenómeno
Como consequência da conjunção ou sucessão regular de (A) e (B) nasce na nossa mente a ideia de relação causal ou conexão necessária. Dizemos então: Sempre que se dá (A) acontece (B). Assim, pensamos que acontecendo (A) não poderá deixar de acontecer (B).
Ora, dizemos que acontecendo (A) sempre acontecerá (A) estamos a falar de um facto futuro, que ainda não aconteceu. É aqui que Hume diz que ultrapassamos o que a experiência - a única fonte de validade dos conhecimentos de facto - nos permite. Com efeito, para Hume o conhecimento dos factos reduz-se às impressões actuais e passadas. Não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiência do que ainda não aconteceu.
A ideia de relação causal, de uma conexão necessária entre dois fenómenos ("sempre foi assim, sempre assim será"), é uma ideia da qual não temos qualquer impressão sensível.
Como o critério de verdade de um conhecimento factual é que a uma ideia corresponda uma impressão sensível, não temos legitimidade para falar de uma relação causal entre os dados na nossa experiência.

3 - Conclusões
Segundo Hume, nós inferimos uma relação necessária entre causa e efeito pelo facto de nos termos habituado a constatar uma relação constante entre factos semelhantes ou sucessivos.
Contraímos assim o hábito de, dado um facto, esperarmos outro. É apenas o hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente presente na experiência em direcção ao futuro.
A razão humana sente-se impelida a criar a ficção de uma conexão necessária ou causal por fora do hábito e do costume. A constante relação de contiguidade espacial e de prioridade temporal entre os fenómenos A e B levam a razão a inventar uma conexão que ela julga necessária, mas da qual nunca teve experiência.
E, contudo, a ficção de uma relação causal é útil não só para a nossa vida quotidiana - seria angustiante viver sem crença no princípio de causalidade - como é também nela que se baseiam as ciências naturais ou experimentais. A crença na ideia de causalidade tem um fundamento não racional. Tal ideia não deriva da razão, mas de factores psicológicos - a vontade de que o futuro seja previsível e, logo, controlável.

O princípio da causalidade, considerado um princípio racional e objectivo, nada mais é do que uma crença subjectiva, o produto de um hábito, o desejo de transformação de uma expectativa em realidade.

PONTO DE VISTA DE DAVID HUME SOBRE DEUS

No que se refere à existência de Deus, reconhecendo que o que concebemos como existente também o podemos conceber como não existente, Hume conclui que não existe um ser cuja existência esteja à partida demonstrada. Como tal, o argumento ontológico é desde logo excluído. Também as provas da existência de Deus baseadas no princípio da causalidade são criticadas por Hume, uma vez que partem das impressões par chegar a Deus; mas Deus não é objecto de qualquer impressão.

Nota:
Indução - passagem do particular para o geral (universal) Dedução - passagem do geral para o particular Todos os materiais do pensamento são extraídos dos nossos pensamentos, externos ou internos. A consciência cognoscente do ponto de vista do empirista tira os seus conteúdos da experiência. No Empirismo o conhecimento é uma aquisição da experiência. O conhecimento é adquirido à medida que a realidade exterior vai "escrevendo" as suas impressões.

FICHA DE TRABALHO SOBRE O EMPIRISMO

GRUPO I
Tenha em conta os seguintes enunciados e seleccione os que são verdadeiros (V) e os que são falsos (F):
1 - No empirismo, o sujeito submete-se aos dados dos sentidos; no racionalismo, às ideias inatas.
R: V
2 - Os empiristas consideram que nem tudo o que está na mente é proveniente dos sentidos.
R: F
3 - David Hume considera que há diferença entre impressões e ideias.
R: V
4 - David Hume é um dos principais representantes do empirismo.
R: V
5 - As ideias são mais intensas do que as impressões.
R: F
6 - Podemos saber o que ocorrerá no futuro a partir da experiência.
R: F
7 - A indução não tem justificação racional.
R: V
8 - O empirismo afirma que todo o conhecimento do mundo é a posteiori.
R: V
9 - Para David Hume, é ao pensamento que cabe conhecer as proposições acerca do mundo evidentes em si mesmas.
R: F

GRUPO II

1 - O que significa a ideia de causalidade, isto é, o que quer dizer a expressão "conexão necessária entre dois fenómenos"?
2 - Segundo Hume, podemos comprovar empiricamente a ideia de uma conexão necessária ou causal entre dois fenómenos? Porquê?
3 - Aquilo que a experiência nos permite observar é que dois fenómenos aparecem um a seguir ao outro repetidas vezes. Como é que inferimos - já que não a constatamos - uma relação necessária ou causal entre esses dois fenómenos? Será um conhecimento?
4 - Esclareça a seguinte frase: "A ideia de causalidade tem uma origem empírica, mas não pode ser objecto de experiência".
5 - A que recorrem os empiristas para justificar a sua posição?
6 - De onde tira o empirismo os conteúdos da razão?
7 - Como se situa Davi Hume face ao problema da origem do conhecimento?
8 - Refira as ideias básicas da tese empirista.
9 - Caracterize a importância do "habito" ou do "costume" em David Hume par explicação do conhecimento.

GRUPO III

1 - Indique quais as características que definem , no empirismo de Hume a relação de causa e efeito.
Bom trabalho e boa sorte!

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