sexta-feira, 5 de junho de 2009

FICHA DE TRABALHO

(possíveis respostas - grupos II e III)
Para cada um dos itens SELECCIONE a resposta correcta.

1. Ao recorrer à dúvida metódica. Descartes pretende:

(A) Rejeitar definitivamente tudo o que não seja indubitável.
(B) Encontrar um fundamento seguro para o conhecimento.
(C) Mostrar que os sentidos por vezes nos enganam.
(D) Provar que não podemos estar certos de nada.

2. No método hipotético-dedutivo, a hipótese desempenha um papel muito importante porque:

(A) Sem hipótese não haveria observação.
(B) O senso comum é hipotético.
(C) A hipótese é o fundamento de toda a investigação científica.
(D) A dedução das leis tem como base a experimentação.

3. O conhecimento científico difere do conhecimento vulgar:

(A). Apenas porque é sistemático.
(B). Porque é assistemático.
(C). Porque visa explicar os factos, mas não sistematicamente.
(D). Porque visa explicar sistematicamente os factos.

4. Segundo Popper, uma teoria é falsificada se…

(A). Ainda não tiver sido empiricamente testada.
(B). For possível conceber um teste empírico que a refute.
(C). Não for científica.
(D). Tiver sido falsificada.

5. Das seguintes afirmações, apenas uma reflecte a perspectiva de karl Popper:

(A). Se a experiência comprova a consequência, então a hipótese é válida.
(B). Se a experiência não comprova a consequência, então a hipótese é válida.
(C). Se a experiência comprova a consequência, então a hipótese não é válida.
(D). Se a experiência não comprova a consequência, então a hipótese não é válida.

GRUPO II (1X35+1X35+1X20+1X30=120 pontos)

1. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

"Entendo por método regras certas e fáceis, que permitem a quem exactamente as observar nunca tomar por verdadeiro algo de falso e, sem desperdiçar inutilmente nenhum esforço da mente, mas aumentando sempre gradualmente o saber, atingir o conhecimento verdadeiro de tudo o que será capaz de saber".

Descartes, Regras para a Direcção do Espírito, Edições 70, Lisboa, p. 24

1.1. Refira, em que medida o método cartesiano exige o exercício da dúvida.
R: A primeira das quatro regras do Método de Descartes exige claramente o exercício da dúvida, pois nessa regra indica-se que nada se deve aceitar por verdadeiro, se não for conhecido evidentemente como tal. Para isso, é necessário evitar a precipitação e os preconceitos, e ter o cuidado de não subscrever juízos que não sejam claros, distintos e indubitáveis.

2. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

“- Que não poderíamos duvidar sem existir, e que isso é o primeiro conhecimento certo que se pode adquirir. Enquanto rejeitamos deste modo que é falso, supomos facilmente que não há Deus, nem céu, nem terra, e que não temos corpo; mas não poderíamos igualmente supor que não existimos, enquanto duvidamos da verdade de todas estas coisas: porque temos tanta repugnância em conceber que aquele que pensa não existe verdadeiramente ao mesmo tempo que pensa que, não obstante todas as mais extravagantes suposições, não poderíamos impedir-nos de crer que esta conclusão PENSO, LOGO EXISTO é verdadeira e, por conseguinte, a primeira e a mais certa que se apresenta àquele que conduz os seus pensamentos por ordem.”
Descartes, Princípios da Filosofia, Porto, Areal Editores, 2005, p. 59

2.1. Clarifique o problema que está em causa no excerto apresentado.
R: Descartes está imerso num oceano de dúvidas, os sentidos enganam-no, a razão engana-o e para complicar tudo pode suceder que um génio maligno não faça senão enganá-lo.
Tendo em conta o texto de Descartes, sendo um acto livre da vontade, a dúvida acabará por nos conduzir a uma verdade incontestável, a afirmação da sua existência, enquanto é um ser que pensa e que duvida. A única certeza que tem é que duvida. Ainda que o génio maligno o engane, é ainda necessário assim que eu exista para ser enganado. Daqui decorre a natureza absolutamente verdadeira da afirmação como mostra o texto “penso, logo existo”, o cogito. Trata-se de uma afirmação evidente e indubitável, de uma certeza inabalável, obtida por intuição, e que servirá de paradigma para as várias afirmações verdadeiras. Como se verifica pelo texto, o problema em causa radica-se na questão da existência, enquanto ser que pensa, ser cuja actividade é pensar, independentemente de ter ou não alguma certeza, o pensamento aqui refere-se à actividade consciente, o que é equivalente à alma, o puro acto de pensar. O cogito é uma intuição racional, uma evidência, algo que não é possível duvidar dele, logo é resistente à dúvida. A sua existência como ser pensante é garantida apenas através do próprio pensamento, conduzindo ao respectivo argumento ontológico, a existência do ser enquanto entidade pensante, esta é a primeira certeza, verdade inabalável, a pedra de toque para a construção de toda a sua filosofia.

3. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

"Todas as percepções do espírito humano reduzem-se a duas espécies distintas que denominarei impressões e ideias. A diferença entre estas reside nos graus de força e vivacidade com que elas afectam a mente e abrem caminho para o nosso pensamento ou consciência.”
Hume, David, Tratado da Natureza Humana, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, p. 29

3.1. Caracterize as duas espécies de percepções a que alude o texto.
R: As duas espécies de percepções – impressões e ideias – caracterizam-se do seguinte modo: as impressões são as percepções que apresentam maior grau de força e vivacidade, abrangendo as sensações, as emoções e as paixões. As ideias ou pensamentos são as representações das impressões, ou seja, são as imagens enfraquecidas das impressões, nunca alcançando vivacidade e força iguais às destas.

4. Tenha em conta o excerto que se segue e responda ao que lhe é solicitado:

“Nos primeiros estádios de desenvolvimento de uma ideia, comportamo-nos mais como artistas, impulsionados pelo temperamento e pelo gosto pessoal. Por outras palavras, começa-se com um palpite, uma impressão, um desejo até, de que o mundo seja de uma determinada maneira. Partimos então desse pressentimento, permanecendo-lhe fiéis mesmo que os dados observacionais apontem há muito no sentido de estarmos a entrar num beco sem saída, arrastando connosco aqueles que acreditam em nós. Mas o que acaba por nos salvar é que a experiência é o juiz derradeiro, o que resolve todos os desentendimentos. Por mais bem fundamentado que o nosso palpite seja, por melhor que o formulemos, chegará a altura de o pormos à prova contra a dura realidade dos factos. Caso contrário, por mais apegados que estejamos às nossas convicções, elas disso não passarão.”

MAGUEIRO, João, Mais Rápido que a Luz, Gradiva, Lisboa, 2003, pp.22-233

4.1. O papel da Hipótese no processo do conhecimento científico é um momento crucial. Clarifique a questão epistemológica presente no texto.
R: A questão epistemológica presente no texto conduz-nos para o papel da hipótese. Uma hipótese é uma antecipação de factos posteriormente comprováveis, ou seja, é uma suposição que se expressa num enunciado antecipado sobre a natureza das relações entre dois ou mais fenómenos. Trata-se com efeito, de uma explicação provisória de um dado fenómeno que exige comprovação. A hipótese condensa todo o método científico, na medida em que existe em função dos factos observados e acaba por ser a conclusão, no caso de a sua verificação a tornar efectiva. Ainda que o seu carácter provisório lhe retire algum valor, ela é de extraordinária importância ao guiar o cientista na elaboração do plano experimental e pôr em prática para a validar. Se se verificar a sua falsidade, ela continua a ser indicação preciosa, pois sabendo com certeza onde não reside a explicação, o cientista fica com o campo das novas hipóteses mais delimitado. Segundo o texto, a formulação de hipóteses é uma actividade criativa do cientista, associada à intuição e à imaginação. Neste sentido, a hipótese não surge indutivamente da observação, antes resulta de um raciocínio criativo.
A hipótese é o momento criativo e inovador da pesquisa, o momento em que o cientista inventa uma suposta solução, isto é, em que constrói um cenário que desencadeará o processo de conformação ou refutação. A criação de uma hipótese é uma tentativa de explicação e, como tal, tem um carácter provisório, exigindo ser verificável e controlável pela experimentação.

GRUPO III (1X35+1X20=55 pontos)


1. Tenha em conta o seguinte texto:

"Nunca podemos ter a certeza absoluta de que a nossa teoria não esteja perdida. A única coisa que podemos fazer é procurar o conteúdo de falsidade da nossa melhor teoria, o que realizamos tentando refutá-la, isto é, tentando contrastá-la de um modo vigoroso à luz de todos os nossos conhecimentos objectivos e de toda a nossa inteligência. Há sempre, naturalmente, a possibilidade de que a teoria seja falsa ainda que saia airosamente de todos esses contrastes. Se sai airosa de todos estes contrastes, podemos ter boas razões para supor que a nossa teoria, que, como sabemos, possui um conteúdo de verdade superior ao da sua predecessora, possa não possuir um conteúdo de falsidade maior.
Porém, se não conseguirmos refutar as novas teorias, especialmente nos domínios em que a sua antecessora tenha sido refutada, então podemos considerar isto como uma das razões objectivas a favor da hipótese de que a nova teoria constitua uma aproximação da verdade maior do que a anterior.
(...)
Em conclusão: nunca podemos justificar racionalmente uma teoria, isto é, a pretensão de que conhecemos a sua verdade, mas, se tivermos sorte, podemos justificar racionalmente a preferência provisória por uma teoria sobre todo um conjunto de teorias rivais.
(...) Ainda que não possamos justificar a pretensão de que uma teoria seja verdadeira, podemos justificar que tudo parece indicar que a teoria constitui uma aproximação da verdade maior do que qualquer das teorias rivais propostas até ao momento."
Popper, Conhecimento Objectivo, Technos, Madrid: 83/84

1.1. Considerando este Texto, o ponto de vista de Popper sobre a experimentação é um ponto de vista verificacionista ou falsificacionista? Fundamente a sua posição.
R: Falsificacionista. Para Popper, o critério para distinguir o científico do não científico não passa pela confirmação mas pela falsificação, significa que a experiência é usada, agora, com o propósito de testar a resistência da hipótese à sua falsificação. Poper entende o teste experimental como a procura de fenómenos que possam infirmar a hipótese. Assim, a teoria científica é válida enquanto for resistindo à tentativa de a falsificar empiricamente e é tanto mais forte quanto mais resistir. Se o critério da falsificação é mais legítimo do que o da confirmação, então muitos enunciados que se dizem científicos, podem não passar de pseudo-ciência.

2. Indique o significado dos seguintes conceitos, clarificando todas as afirmações que fizer:

(A) – Falsificabilidade
R: A falsificabilidade é o processo, defendido por Karl Popper, de submeter as hipóteses científicas a testes para as refutar (às mais duras tentativas de refutação). O falsificacionismo ou refutacionismo é uma posição encabeçada de Karl Popper, que, ao analisar logicamente o raciocónio tradicional dos verificacionistas, conclui que a ciência incorria na falácia da afirmação do consequente. De facto, as experiências que confirmam as consequências particulares deduzidas da hipótese não autorizam logicamente a conclusão de que as hipóteses são válidas. A verdade do que é particular implica a verdade do que é universal. Logo, nunca se pode comprovar que as hipóteses são verdadeiras. Popper considera que as experiências devem ser feitas, antes, com o objectivo de invalidar as hipóteses, a única coisa que se pode fazer com segurança. De facto, a falsidade da consequência particular implica a falsidade da consequência da hipótese geral. Na perspectiva de Popper, em laboratório, só se pode obter a certeza de hipóteses falsas e não de verdadeiras. Quando as experiências comprovam a hipótese, esta não é uma verdade segura, sendo simplesmente uma conjectura mais ou menos provável que deve continuar a ser submetida a provas de falseamento. As conjecturas manter-se-ao em vigor, enquanto não forem destituídas pela ocorrência de factos particulares que as contradigam.
O falsificacionismo proporciona uma maneira de distinguir as hipóteses científicas úteis das hipóteses irrelevantes para a ciência. Quanto mais falsificável for um enunciado, mais útil é à ciência. Se um enunciado for falso ajudará ao progresso da ciência; se for falsificável, contribuirá para encorajar o progresso o desenvolvimento de uma hipótese que não possa ser assim tão facilmente refutada; se mostrar ser difícil de falsificar, fornecerá uma teoria convincente e quaisquer novas teorias serão ainda melhores. A ciência progride através dos erros. Os cientistas experimentam uma hipótese, verificam se podem falsificá-la e se o conseguirem, substituem-na por outra melhor, que é então sujeita ao mesmo tratamento.

(B) – Testabilidade
R: Testabilidade é a possibilidade de pôr à prova um enunciado, portanto de conformá-lo ou de desmenti-lo. A testabilidade compreende qualquer possibilidade de confirmação, verificação, averiguação e aferição, na medida em que cada uma dessas possibilidades pode redundar na prova ou na falta de prova em questão.
(C) - Ciência como conjectura
R: Conjectura – é a designação dada por Karl Popper a qualquer teoria científica, considerando-a como um conjunto de hipóteses que devem ser submetidas a falsificações sucessivas (isto é, a tentativas de refutação) devendo, se resistirem a essas tentativas, ser consideradas provisoriamente como aceites pela comunidade científica, mas nunca como verdades absolutas. Popper propõe que em vez de teoria se fale em conjecturação e, em vez de verificação, se fale de falsificabilidade.
(D) – Corroboração
R: Corroboração é a aceitação das teorias científicas pela comunidade científica, em virtude da sua resistência científica, em virtude da sua resistência às tentativas de Falsificabilidade. As teorias científicas não devem ser consideradas verdadeiras, mas sim, corroboradas e aceites provisoriamente, por terem resistido à refutação. A partir dos resultados de novas investigações, qualquer teoria pode vir a ser declarada errada, apesar de corroborada.
A clarificar o conceito, como não podemos fazer verificações completas, as teorias nunca podem ser confirmadas em definitivo. Podem é ser “corroboradas”. Para ser corroborada, uma teoria terá de ter resistido às tentativas mais sérias e severas de falsificabilidade e, nessa qualidade de teoria corroborada, será aceite provisoriamente pela comunidade científica, como já frisei anteriormente, que deverá continuar a submetê-la permanentemente à prova.

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