segunda-feira, 1 de junho de 2009

QUESTÕES E PROBLEMAS DA CIÊNCIA

Apontamento:

A ciência é factual e as teorias científicas são apoiadas por factos. Por vezes, nos documentários científicos que retratam os biólogos em acção, vemos os cientistas a observarem cuidadosamente a natureza. Os bons documentários não mentem.
O conhecimento científico começa com a observação sistemática e cuidadosa dos factos. As técnicas de observação utilizadas pelos cientistas garantem a fiabilidade dos dados empíricos. Os dados obtidos são analisados, quantificados, comparados e classificados. Por fim, a partir do conjunto dos dados particulares disponíveis, os cientistas extraem conclusões gerais. As conclusões gerais assim obtidas também são analisadas, comparadas e classificadas, e permitem obter conclusões ainda mais gerais. Deste modo, raciocinando por indução a partir dos dados factuais, os cientistas formulam as leis e as teorias que constituem o conhecimento científico.
Ao tentar explicar e prever aquilo que acontece no mundo, os cientistas concebem hipóteses, isto é, proposições e teorias que deseja que sejam verdadeiras.
Para avaliar uma hipótese cientificamente, é preciso recorrer à observação ou experiência.
E aparentemente uma hipótese pode ser validada ou invalidada pela experiência, isto é confirmada ou refutada pela observação.

Várias questões assaltam-nos:
- O que distingue as teorias científicas das que não são cientificas?
- O que caracteriza o método cientifico?
- A observação pode confirmar as teorias?

Critério da verificabilidade:

O critério da verificabilidade foi proposto pelos filósofos do positivismo lógico, um movimento filosófico radicalmente empirista que exerceu uma grande influência na filosofia da ciência durante grande parte da primeira metade do século XX. Embora os positivistas estivessem interessados sobretudo em encontrar um critério de significado, mais precisamente uma maneira de distinguir as frases declarativas com sentido das frases declarativas absurdas.

Uma teoria empiricamente verificável é aquela cujo valor de verdade pode ser estabelecido através da observação.

Afirmações verificáveis:

- Certas algas são verdes
- Júpiter tem satélites
- Há algas noutros planetas

A primeira afirmação pode ser verificada através da observação quotidiana. A segunda foi verificada pela primeira vez por Galileu através das suas observações com o telescópio. O valor de verdade da terceira frase ainda não foi estabelecido pela observação, mas esta não deixa de ser verificável. Se um dia uma sonda revelar a existência de algas noutros planetas, teremos estabelecido o valor de verdade desta frase através da observação. Para uma frase ser verificável, não é necessário que possamos realizar na prática as observações relevantes para descobrir o seu valor de verdade, basta que, em princípio, o seu valor de verdade possa ser determinado através da observação.

Ora, não é possível estabelecer a verdade das leis da natureza através da observação – não é possível verificá-las empiricamente.
O critério positivista implica que as leis da natureza não são científicas.


O critério de falsificabilidade

O filósofo da ciência Karl Popper foi um dos críticos do positivismo lógico. Popper nunca esteve interessado em encontrar um critério de significado, mas esforçou-se por resolver o problema da demarcação, isto é, por encontrar um critério de cientificidade satisfatório.
Popper diz que, uma teoria é científica somente se for empiricamente falsificável.
Aquilo que distingue as teorias das ciências empíricas das restantes teorias não é a possibilidade de as verificarmos ou comprovarmos através da observação, o que importa, pelo contrário, é a possibilidade de as falsificarmos.

Falsificar empiricamente uma teoria é mostrar que ela é falsa recorrendo a dados obtidos através da observação.

O critério de Popper pode parecer estranho, já que aquilo que nos interessa é ter teorias verdadeiras.

Afirmações falsificáveis:

- Amanhã vai chover ( esta afirmação será refutada caso não chova no dia indicado)
- O lince Ibérico já não existe em Portugal (esta afirmação será falsificada caso se observe um lince – ou vestígios da sua presença – em território português.
- Todo o cobre dilata quando é aquecido (A lei da dilatação do cobre é incompatível com a observação de pedaços de cobre que não dilatem quando são aquecidos – por isso seria refutada pela observação de um pedaço de cobre com essa característica.

Não é possível verificar as leis da natureza ou as afirmações universais em geral – mas é possível refutá-las.
A observação de muitos corvos negros não prova que é verdade que todos os corvos são negros; no entanto, a observação de um único corvo de outra cor seria suficiente para provar que é falso que todos os corvos sejam negros.

Afirmações que não são falsificáveis:

- Amanhã vai chover ou não vai chover ( simples verdade lógica e por isso não pode ser refutada pela observação)
- O lince ibérico foi criado pelos deuses da floresta – não é possível provar a sua falsidade através de dados empíricos
- Há pedaços de cobre que nunca dilatam

- Uma teoria falsificável é aquela que pode ser refutada, se for falsa.
- Segundo Popper, quanto maior é o grau de falsificabilidade de uma teoria mais conteúdo empírico ela tem.

Falsificabilidade – é o processo de confrontar uma teoria com dados de observação na tentativa de provar a sua falsidade.


Nota:
Concebe-se a indução como um método que conduz, através de regras mecanicamente aplicáveis, de factos observados a princípios gerais correspondentes.

Popper sugere que a indução não é necessária para conceber teorias científicas, pois estas são fruto da criatividade intelectual. Por outro lado, a indução não é necessária para avaliar teorias científicas. A avaliação de teorias científicas consiste em tentativas de refutação e, para tentar refutar uma teoria basta recorrer ao raciocínio dedutivo, já que é por dedução que se fazem as previsões empíricas a conformar com a observação.

- Uma teoria corroborada é aquela que, até ao momento, resistiu às tentativas mais sérias e severas de falsificabilidade, isto é de refutação.

Segundo Popper, os cientistas avançam conjecturas ousadas como respostas a problemas, testam-nas, submetendo-as a testes severos, e abandonam-nas, se elas não resistem aos testes.

Popper afirma que as teorias científicas são falsificáveis e que, quando uma teoria é falsificada através de um teste empírico, ela é posta em causa e tem de ser abandonada. Mas uma teoria não pode ser conclusivamente falsificada por uma observação ou por uma experiência, porque um insucesso empírico pode sempre ser atribuído ao teste, ou a um dos enunciados acessórios da teoria, e não aos seus enunciados centrais.

A ciência é uma conjectura – isto é, o conjunto de tentativas de explicação do mundo – porque nunca é possível comprovar uma teoria a partir da observação de todos os casos.

Uma teoria corroborada – isto é, a que resistiu a todas as tentativas para a sua falsificação – é aceite provisoriamente pela comunidade científica, que deverá continuar a submetê-la permanentemente à prova.

Popper propõe:

- Uma nova concepção de ciência – Ciência como conjectura, ou seja, uma sequência de tentativas para solucionar determinados problemas, procurando e provocando os desmentidos da experiência e fazendo da falsificabilidade o critério de demarcação entre Ciência e pseudociência.
- Uma nova atitude do cientista – Valorização do diálogo e da discussão (intersubjectividade). Procurar refutar as teorias, isto é, eliminar o erro como via de clarificação de novos conhecimentos;
- Um novo critério de demarcação entre Ciência e pseudo-ciência – A falsificabilidade em vez de verificação.

FICHA DE TRABALHO

GRUPO I
(com respostas possíveis)
1 – O que é uma afirmação verificável? Explique e dê exemplos.
R: Uma afirmação verificável é aquela cujo valor de verdade pode, em princípio, ser determinado conclusivamente pela observação.

2 – O que é uma afirmação falsificável? Explique e dê exemplos.
R: Uma afirmação falsificável é aquela que pode ser refutada pela observação.

3 – Porque razão Karl Popper propôs a falsificabilidade como critério de cientificidade?
R: Popper propôs a falsificabilidade como critério de demarcação porque este critério não exclui as afirmações que captam leis da natureza, dado que uma afirmação estritamente universável é falsificável.

4 – Considere as seguintes afirmações e indique as que são falsificáveis e as que são verificáveis, justificando a sua escolha.

a) Todos os cisnes são brancos
R: Falsificável mas não verificável
b) Nem todos os cisnes são brancos
R: Verificável mas não falsificável
c) Existem gatos voadores.
R: Verificável mas não falsificável
d) Não existem gatos voadores.
R: Falsificável mas não verificável
e) Esta rosa é vermelha.
R: Verificável e falsificável.
f) Esta rosa não é vermelha.
R: Verificável e falsificável.
g) Na próxima década vai ocorrer um terramoto em Lisboa.
R: Verificável e falsificável
h) Na próxima década pode ocorrer um terramoto em Lisboa.
R: Falsificável mas não verificável
i) Nada se move a uma velocidade superior à da luz.
R: Falsificável mas não verificável
j) 5+7= 12.
R: Nem verificável nem falsificável
k) Se chover, o José perde as eleições.
R: Verificável e falsificável

5 – Considere as seguintes afirmações e aponte qual a afirmação mais falsificável e a menos falsificável. Justifique a sua postura.
a) Todos os planetas têm órbitas elípticas.
R: Afirmação mais falsificável
b) Os planetas do sistema solar não têm órbitas quadradas.
R: Menos falsificável
c) Os planetas do sistema solar têm órbitas elípticas.


GRUPO II

1 – Explique a perspectiva indutivista do método científico.
R: Segundo o indutivismo, a ciência parte da acumulação de dados puramente observacionais. As leis e teorias são inferidas por indução a partir de dados coligidos. Procuram-se depois novos dados de modo a confirmar as teorias e a obter generalizações mais amplas.
2 – Explique a perspectiva falsificacionista do método científico.
R: Segundo o falsificacionismo, a ciência parte de problemas suscitados por teorias e por interesses práticos. As teorias são conjecturas imaginativas que se propõem de modo a resolver problemas. Essas conjecturas são sujeitas a testes que visam refutá-las.
3 – Compare o indutivismo com o falsificacionismo no que respeita ao papel atribuído à observação.
R: Para o indutivista, a observação é o fundamento das teorias científicas: e as teorias resultam da observação e são confirmadas por ela. Para o falsificacionista, a observação serve unicamente para tentar refutar teorias.
4 – O que surge primeiro, a hipótese ou a observação? Explique como Popper responde a este problema.

GRUPO III

1 – “Só as teorias falsificáveis são científicas”. Concorda? Justifique a sua postura.
R: Concordo. Uma teoria das ciências empíricas tem de poder ser testada pela observação. Ora, qualquer teste genuíno envolve a possibilidade de refutação. Por isso, uma teoria ser falsificável é condição necessária para ser científica.
2 – Uma boa teoria sobre o método científico diz-nos como a ciência funciona de facto ou como a ciência deve funcionar?
R:
3 – “A astrologia é uma ciência porque faz previsões verificáveis”. Concorda? Porquê?
R: Não concordo. É verdade que a astrologia faz previsões verificáveis, mas muitas vezes essas previsões são vagas. Além disso, quando as previsões fracassam os astrólogos não revêem as suas teorias.
4 – Que importância tem a indução na ciência?
R: O raciocínio indutivo não é crucial para a concepção de teorias científicas: estas resultam frequentemente da criatividade e não há um conjunto de procedimentos, indutivos ou dedutivos, para se chegar a teorias científicas.
No entanto, na avaliação de teorias científicas a indução é indispensável: uma teoria satisfatória comporta-se bem perante os testes empíricos. Se as suas previsões empíricas ocorrem de facto, isso não mostra apenas que a teoria não foi refutada: o sucesso dos testes aumenta a probabilidade de a teoria ser verdadeira. Isto significa que os dados empíricos favoráveis a uma teoria dão-lhe apoio indutivo, sem o qual não seria razoável acreditar no seu sucesso futuro e nas suas aplicações.
5 – A ciência é objectiva? Justifique.
R: Sim, a ciência é objectiva. Isto não significa que os cientistas sejam sempre imparciais. A garantia da objectividade da ciência é a possibilidade de crítica aberta dentro da comunidade científica, bem como a possibilidade de se repetirem os testes empíricos que alegadamente suportam as teorias.
As teorias científicas são tentativas de descrever correctamente a realidade. Elas têm implicações empíricas: se aquilo que dizem é verdade, observaremos certas coisas em certas circunstâncias. Realizando os testes empíricos apropriados, poderemos ir descobrindo, cada vez com maior precisão, se as teorias estão ou não de acordo com a realidade. E os resultados dos testes são objectivos, pois podem ser reproduzidos e não variam de observador para observador.


FICHA DE TRABALHO

1 – Por que razão o método utilizado pelos cientistas recebe o nome de método experimental?

2 – Quais são as fases do método? Explique-as.

3 – Quando uma hipótese não é apoiada pelos resultados experimentais, como procedem os cientistas?

4 – Por que razão o método utilizado pelos cientistas também recebe o nome de método hipotético-dedutivo?

5 – Podem as hipóteses ser empiricamente verificadas? Justifique.

6 – Como procedem os cientistas, quando testam uma teoria?

7 – Como se testa empiricamente uma teoria?

8 – Segundo Popper, a falsificação das consequências de uma teoria é muito esclarecedora. Porquê?

9 – Que condições tem uma teoria de satisfazer para ser cientifica?

1 comentário:

  1. Explique o critério de Popper para distinguir proposições cientifícas de proposições não cientifícas. Exemplifique. Comente.

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