sábado, 17 de janeiro de 2009

OLHARES SOBRE O CONHECIMENTO

Apontamento:

É sobretudo a partir do século XVII que na filosofia se toma consciência de que não faz sentido empreender a tarefa do conhecimento sem previamente se reflectir sobre as possibilidades de a realizar.
Ao longo da vida e quase permanentemente, o ser humano está a “fazer” conhecimento ou a “adquirir” conhecimentos. Conhece pessoas, coisas, modos de proceder, ideias, opiniões diversas, teorias científicas…
Sabemos muitas coisas, felizmente. Mas não as sabemos por acaso. Na ciência, na filosofia e no dia-a-dia levamos acabo actividades que produzem conhecimento. Essas são actividades cognitivas. É sobretudo o conhecimento que nos separa dos outros animais. A verdade é que os pássaros voam e nós não; mas construímos aviões que voam mais depressa e até bem mais longe do que os pássaros; alguns animais vêem melhor do que nós; mas, munidos de telescópios e microscópios, vemos o que nenhum animal alcançará; outros correm bem mais do que nós; um carro no entanto, bate qualquer animal.
O modo como estas várias formas de conhecimento chegam ao ser humano não são todas iguais; isto significa que se podem estabelecer algumas distinções, quer da parte de quem conhece, quer da parte do que é conhecido. Dito de forma mais adequada: quer do pondo de vista do sujeito que conhece; quer do ponto de vista do objecto que é conhecido.
O sujeito pode tomar conhecimento, pode adquirir informação, pode construir saberes. Há uma predominância do papel do sujeito quando conhece uma pessoa que lhe é apresentada. Digamos que a abordagem é, neste caso, essencialmente subjectiva: a imagem que é representação do objecto no sujeito está cheia de conotações de ordem pessoal – juízos de gosto, de simpatia ou de rejeição, apreciações imediatas – enfim, é um conhecimento dominado pelas opiniões. Já o mesmo não acontece quando o conhecimento se dirige sobre uma teoria científica. Aqui o papel predominante pertence ao objecto, ele impõe-se com a força da sua objectividade e os juízos que sobre ele se formulam não são, neste caso, juízos de valor, mas juízos de facto. Agora a imagem que se representa no sujeito possui um maior grau de adequação ao objecto.
O sujeito é um agente no processo do conhecimento. A imagem que se representa no sujeito é sempre uma construção de um sujeito que resulta da actividade desse sujeito – ordena, relaciona, organiza as impressões que o objecto nele provoca. Diz-se, então, que a consciência é intencional, conduz à elaboração das representações dos objectos.

Gnosiologia – Disciplina filosófica que trata dos problemas relativos à fundamentação do conhecimento humano.


O termo conhecimento tem o significado de representação, ideia, teoria, saber. Enquanto processo, o conhecimento é a actividade pela qual os seres humanos captam e compreendem o que se passa à sua volta. Dito de outra maneira, o conhecimento é o acto pelo qual o sujeito apreende ou representa o objecto.

“Brinca! Pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes que te cabe na mão.
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar à minha porta.
Alberto Caeiro


Conceitos a saber:

Conhecimento:
- Apresentação intelectual;
- Captação conjunta; é a actividade por meio da qual o sujeito apreende intelectualmente ou toma consciência do objecto/mundo, formando sobre este uma representação.

Consciência:
- Discernimento;
- Capacidade que o ser humano possui, como ser pensante, de se aperceber daquilo que se passa dentro ou fora de si.

Crença – Certeza, aquilo de que se exclui qualquer dúvida; convicção, aquilo que se torna verdadeiro, mas sem justificação racional, sinónimo de fé; opinião, aquilo a que se adere por uma reflexão pessoal ou como eco do pensamento colectivo.

Imanente:
- Inerente;
- Designa algo que está inseparavelmente contido na natureza de um ser, determinando, transformando e produzindo efeito na sua própria interioridade. Usa-se por oposição a transcendente.


Objecto:
- Que está diante de;
- Realidade exterior ao sujeito que é apreendida por um acto de percepção ou do pensamento, possuindo uma dimensão exterior à do sujeito cognoscente. Usa-se por oposição a sujeito.

Representação:
- Imagem;
- Ideia ou imagem que concebemos de algo através da operação da mente e que deve corresponder ao objecto que se encontra fora da consciência. A representação pode ser imagética (através de imagens psicológicas) ou conceptual (por conceitos).

Sujeito:
- Eu cognoscente;
- É aquele que, enquanto consciência cognoscente, quando diante de um objecto, conhece. É neste ser cognoscente que está o princípio fundador do conhecimento. Usa-se por oposição a objecto.

Transcendente:
- Que está para além de;
- Designa o que está para além ou fora da natureza de algo. Os objectos que o sujeito pretende conhecer encontram-se fora da esfera deste, estão fora da natureza deste. Usa-se por oposição a imanente.


“O animal tornado soberano de todos os animais – o Homo sapiens – é não só o animal menos acabado e mais desprovido, como também um ser de necessidades insaciáveis, de desejos infinitos…” – Edgar Morin

A maior parte das tarefas do nosso quotidiano implicam conhecimento. Mesmo as mais banais e rotineiras pressupõem-no. No entanto, muito poucas vezes nos pomos a pensar sobre o próprio conhecimento; alguma vez reflectimos sobre o próprio acto de conhecer? Sobre o que significa e podemos realmente conhecer? Quantas vezes nos pusemos a pensar sobre a forma e o modo como conhecemos?... Contudo, mesmo que nunca tenhamos pensado sobre isto, não quer dizer que não tenhamos conhecimentos, ou que não conheçamos. Aliás, podemos durante uma vida inteira adquirir conhecimentos sem nunca reflectirmos acerca da nossa actividade cognoscitiva (actividade mediante a qual o ser humano conhece). O conhecimento sustenta toda a actividade humana, mas nem todo o conhecimento é do mesmo tipo.

Fenomenologia – é o estudo descritivo dos fenómenos que aparecem à consciência do sujeito, passíveis de serem apreendidos por intermédio da representação. A fenomenologia caracteriza-se pela actividade intencional que o sujeito realiza em direcção ao objecto com a finalidade de dele se apropriar. Assim, a fenomenologia é a doutrina de Husserl segundo a qual é preciso descrever rigorosamente as coisas, “entrar nas próprias coisas”, antes de as interpretar ou explicar.

Correlação – é a relação recíproca de duas coisas ou de dois termos em que um implica logicamente o outro. A correlação existente entre sujeito e objecto não significa reversibilidade, dado que o papel do sujeito, que é conhecer, é diferente do papel do objecto, que é o de ser conhecido.

A corrente fenomenológica encara o conhecimento enquanto acto, descrevendo a sua estrutura e analisando-o nos seus elementos fundamentais.
Os fenomenológos perspectivam o conhecimento como um fenómeno puro, isto é, desligado de quaisquer particulridades. À sua análise não interessa a discriminação da natureza dos objectos de conhecimento. Também não interessa se se conhece mediante estes ou aqueles processos cognitivos, nem se se trata de conhecimento científico, filosófico ou do senso-comum. Tão-pouco importa se é conhecimento por intuição ou por dedução, se o que se conhece é do domínio da física quântica, das transformações químicas da matéria, do reino dos insectos ou dos problemas com que a humanidade se depara. Assim, a fenomenologia do conhecimento é um método que põe de lado todas as variáveis interferentes no conhecimento natural para considerar pura e simplesmente o conhecimento em si mesmo, a sua estrutura essencial, desligada do que quer que seja. Perspectivado como um fenómeno que ocorre sempre que um sujeito conhece, os fenomenólogos procuram descrevê-lo para clarificar os elementos cuja presença se torna imprescindível para que ocorra o fenómeno cognitivo.
Em sentido fenomenológico, o conhecimento é perspectivado como fenómeno puro, em que se analisa o que há de essencial: a relação entre um sujeito de conhecimento e um objecto susceptível de ser conhecido.

Na descrição fenomenológica, os conceitos-chave são os seguintes:

- Conhecimento – Acto pelo qual o sujeito apreende ou representa o objecto;
- Sujeito cognoscente – Não é um sujeito real, empírico, uma pessoa identificável. Trata-se de um sujeito gnoseológico, entendido como o que apreende ou representa o objecto;
- Objecto conhecido – Não significa coisa ou objecto da experiência. Refere-se a tudo aquilo que é susceptível de ser apreendido. Assim, uma pessoa, uma ideia, um sentimento, uma teoria, uma acção, uma doença, um valor, uma cultura, uma raiz quadrada, um teorema, a Pré-História, a Informática, a filosofia do Renascimento podem ser objectos de conhecimento, desde que em face de um sujeito que os conheça;
- Representação – Resultado do acto de conhecer. Depois de apreendido, o objecto fica na consciência do sujeito sob a forma de imagem e não sob forma física.



Proposta de tarefa:

1 – Que condições são necessárias para haver conhecimento?
2 – Identifica os diversos tipos de conhecimento.
3 – Clarifique o conceito de correlação.
4 – Como se caracteriza a correlação sujeito-objecto?

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